A ideia e conceito de se manifestar e comunicar com imagens e signos não é algo recente ou contemporâneo; na verdade, se trata de uma prática que remete aos tempos mais primitivos da humanidade, época em que os desenhos em rochas e as simbologias apresentavam, ainda que fosse de uma maneira essencialmente restrita e precária, a dinâmica de uma comunicação entre os membros da tribo e ou agrupamento familiar, de modo que pudessem passar aos seus descendentes um pouco do conhecimento e experiência vivida e sentida até aquele momento.
Por mais hajam forças contrárias e seja pelo crivo da dor, tudo em nosso planeta se movimenta, evolui e floresce para novos arranjos e configurações, portanto, com o passar dos tempos a tal comunicação por imagens e signos, que antes era pobre e simplória, ganhou substancial desenvolvimento, nome (comunicação visual), conceito, estudo aplicado, caráter estratégico, utilização mercadológica e, principalmente, se mantém em constante aperfeiçoamento às mais diferentes dinâmicas da sociedade.
No entanto, o que isso tem a ver com os nossos queridos rock n’roll e heavy metal e os seus quase infinitos subgêneros? Bem, absolutamente tudo! E o motivo é muito simples: as imagens são uma forma rápida e direta em persuadir o ouvinte a lançar um olhar, se interessar e, consequentemente, consumir o disco da respectiva banda, além disso, tem a tarefa de traduzir, ainda que seja de maneira superficial, o conceito e o conteúdo lírico da obra.
Esse namoro não foi paixão de apenas um verão, não! A relação se tornou séria e acabou em um casamento bastante feliz no final da década de 1960, tendo o ápice do romance nas décadas de 1970 e 1980, quando a comunicação visual ganhou destaque e merecida pompa entre as muitas bandas da época.
Seria uma presunção sem igual querer esgotar este imenso assunto em nosso espaço, contudo, e de forma bastante simples, queremos lançar luz em alguns nomes que se destacaram ao longo dos anos na cena pesada, visto que criaram obras visuais que impactaram a vida de centenas de milhares de pessoas ao redor do globo.
Peter Blake
Um dos primeiros nomes a pisar no solo sagrado do rock n’ roll com sua arte foi o artista britânico Peter Blake. Em parceria com o fotógrafo Michael Cooper, Peter deu vida a uma das mais célebres e prestigiadas capas de disco, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, do The Beatles.
Não podendo ser mais feliz em seu trabalho, o artista viu sua obra se tornar ícone da década de 1960, época da contracultura hippie e movimentos contra a Guerra do Vietnã.
A sacada de incluir personalidades tais quais Marlon Brando, Bob Dylan e Marilyn Monroe em meio a nomes da ciência e filosofia do quilate de Karl Marx, Albert Einstein, Sigmund Freud e Carl Jung fora genial. A arte provou que uma boa ideia consegue passar com sobras pelo implacável teste do tempo.
Andy Warhol
O norte-americano foi outro nome muito bem comentado no final da década de 1960 por suas viagens e esquisitices visuais. O ilustrador assinou trabalhos de grande expressividade como The Velvet Underground & Nico, do Velvet Underground; Love You Live e Sticky Fingers, do The Rolling Stones e Honi Soit, de John Cale.
Andy também atuou no mercado publicitário, fazendo artes para empresas gigantes como Coca-Cola, Campbell’s e Paramount. Warhol morreu precocemente aos 58 anos em 22 de fevereiro de 1987, devido a uma arritmia cardíaca.
Neon Park e Barry Godber
O rock sem fronteiras e sublime de Weassels Ripped My Flesh, de Frank Zappa; bem como a virtuose psicodélica progressiva de In The Court of Crimson King, de King Crimson, não poderiam ficar de fora da festa e tiveram as suas canções embrulhadas por magníficas artes visuais. Os responsáveis pelas obras foram Neon Park e Barry Godber, respectivamente.
Park atuou ainda mais no rock clássico, pois assinou capas dos discos Dixie Chicken e Waiting For Columbus, do quinteto californiano Little Feat.
Storm Thorgerson
Outro designer gráfico bem querido e disputado pelas bandas de rock progressivo foi o britânico Storm Thorgerson. Dentre suas inúmeras obras, o grande destaque é a capa do mega clássico The Dark Side Of The Moon, do Pink Floyd, cujo astúcia criativa refinou ainda mais o teor artístico da magnum opus de Roger Waters e companhia.
Como não bastasse, Storm assinou capas do calibre de Atom Heart Mother, The Division Bell, Wish You Were Here, Animals e Pulse (Pink Floyd); In Through The Out Door e Houses OF The Holy (Led Zeppelin); Peter Gabriel 1 e 3 (Peter Gabriel); Pieces Of Eight (Styx); Skunkworks (Bruce Dickinson) e Try Anything Once, On Air e The Time Machine (Alan Parsons).
Mark Wilkinson
Deixando psicodelismo lisérgico setentista e avançando para as luzes de neon oitentista, o inglês é outro nome venerado pela turma do rock progressivo por suas aventuranças pelo campo do surrealismo e as ácidas salpicadas de humor negro, nas quais as rígidas ditaduras da lógica e razão são meramente expectadoras de última fila, o que agrada bastante os fãs, bem como seus clientes.
Sendo assim, o Marillion, quinteto pop progressivo, escolheu Wilkinson para dar vida as capas de Script For A Jester Tear, Misplaced Childhood, Fugazi e Clutching At Straws. Mesmo em carreira solo, Fish, ex-frontman do Marillion, também recorreu aos trabalhos de Mark em Suits, Internal Exile, Sunsets On Empire e Raingods With Zippos.
Até mesmo a turma que tende para o lado negro da força – ou da música – encontrou na arte de Wilkinson o par perfeito para seus discos. A lista é longa, mas passa por Judas Priest com Painkiller, Metal Works, Jugulator, Angel Of Retribution e Nostradamus; Iron Maiden em Live At Donington, Best Of The B’Sides e Eddie’s Archieve; Megadeth com a canção Mary Jane Single e o Europe na obra Prisoners In Paradise.
Paul Whitehead
Assim como Mark Wilkinson, Paul Whitehead desafia os traços burocráticos dos desenhos convencionais com seu cáustico surrealismo. Sem limites, ele percorre o espectro do singelo ao repugnante em um piscar de olhos.
Paul ajudou conceber peças importantes do rock progressivo setentista como Foxtrot, Trespass e Nursery Cryme (Genesis); Pawn Hearts (Van Der Graaf Generator) e Illusion (Renaissance).
Hans Giger
Além da pujante indústria de joias e relógios e a fabricação de deliciosos chocolates, a Suíça pode se gabar também de ter um artista com obras reconhecidas em boa parte do mundo. O responsável pelo feito é o excêntrico Hans Giger, que deu pinceladas certeiras nos progressivos Brain Salad Surgery (Emerson Lake & Palmer) e Attahk (Magma).
Hans não ficou encastelado nos anos 1970, não, visto que mostrou grande desenvoltura criativa em décadas seguintes em bizarrices como Hallucinations (Atrocity), Heartwork (Carcass), Danzig III: How To Gods Kill (Danzig) e To Mega Therion (Celtic Frost).
Gustavo Sazes
E não é só o mercado europeu e norte-americano que produz bons artistas gráficos, o Brasil é muito bem representado, diga-se de passagem, pelo carioca Gustavo Sazes. O diretor de arte brasileiro assinou trabalhos como Aqua (Angra), Brainsworms Part 1 (Bittencourt Project), Fragile Equality (Almah) e Southern Storm (Krisiun).
Para o mercado internacional, Gustavo foi certeiro em artes para The Root Of A Evil (Arch Enemy), Days Of Defiance (Firewind) e Slaves Of The World (Old Man’s Child).
Marcelo Vasco
E tem mais brasileiro fazendo bonito na cena heavy metal, já que o sulista emprestou seus traços infernais e quentes para discos de peso tais quais Repentless (Slayer), Gods Of Violence (Kreator), We Are The Apocalypse (Dark Funeral), entre muitos outros.
Gottfried Helnwein
De volta ao Velho Continente, o austríaco é mais um ás da comunicação por imagens. Sua trajetória pelas artes começou quando criança após receber de presente de seu pai um gibi do Pato Donald.
Desde então, o desenho e as artes se tornaram tão necessários quanto o oxigênio para sua existência. Inspirado pelas condições humanas, seus trabalhos têm características perturbadoras e provocativas, sem se esquecer dos traços carregados de depressão e as cores – ou a falta delas – que salienta a ausência de vida nas relações.
Na música, Helnwein foi responsável por assinar a direção de arte de Blackout (Scorpions), Sehnsucht, (Rammstein) e The Golden Age Of Grotesque (Marilyn Manson).
Roger Dean
O inglês ficou famoso por suas viagens lisérgicas, as quais encontraram sintonia perfeita no som sem limites de Yes e Asia. Dean concebeu os logotipos das bandas, bem como as capas de Close To The Edge, Yessongs, Tales From Topographic Oceans, Relayer, do Yes, e Alpha, Astra, Then & Now e Asia, do Asia.
Além da dupla progressiva, Dean chegou a trabalhar com o veterano Budgie em Never Turn Your Back on a Friend e com os magos do Uriah Heep nas pérolas musicais Demons And Wizards, Sea Of Light e The Magician’s Birthday.
Drew Struzan
O norte-americano fez muita gente dormir com o papai e a mamãe ou de luz acesa por semanas a fio com a demoníaca arte de Sabbath Blood Sabbath, do patriarca do metal, Black Sabbath. O deboche também fez parte de seus inconfundíveis traços em Welcome To My Nightmare, do mestre do shock rock, Alice Cooper.
Na cultura pop, Drew colaborou com artes para os longas mega premiados Blade Runner – O Caçador de Androides, E.T. O Extraterrestre, Indiana Jones e Stars Wars.
Derek Riggs
Para os fãs de som pesado, uma capa caprichada tem praticamente o mesmo peso do conteúdo musical da obra. E o trabalho de Riggs está no mesmo nível de genialidade do Iron Maiden, e a união das forças rolou em Killers, The Number of the Beast, Piece of Mind, Powerslave, Somewhere in Time e Seventh Son of a Seventh Son.
Riggs também assinou obras como Accident of Birth, de Bruce Dickinson, Infinitek, de Stratovarius, entre outras dentro da seara power metal.
Edward Repka
Sem dúvida o thrash metal não teria o mesmo impacto no público sem a urgência, agressividade e o quê apocalíptico dos desenhos de Repka. De Megadeth a Rob Zombie, passando pelo Death até chegar ao grupo brasileiro Zumbis Do Espaço, a mente maravilhosamente criativa e caótica de Edward já nos fez gastar bastante grana com discos e camisetas.
Sentença final
Com a absoluta certeza o rock n’ roll e o heavy metal são muito mais excitantes com os inconfundíveis traços desses e de muitos outros artistas, mesmo que esses traços ora incorpore aspectos infernais ou ora angelicais. Portanto, é e sempre será um grande prazer saborear um bom disco com uma arte visual igualmente apetitosa.