Já se passou um quarto de século desde que o mundo acompanhou com apreensão a virada dos relógios para o ano 2000. Se o Y2K (“bug do milênio”) se mostrou apenas mais um boato infundado, o ataque às Torres Gêmeas, a ascensão da China, a transformação digital, a crise do subprime, a pandemia de covid-19 e as guerras do Iraque e da Ucrânia, entre outros, foram acontecimentos históricos que marcaram o século XXI até o momento.
No âmbito do heavy metal, o retorno do Iron Maiden com Brave New World (2000) é o fato mais representativo e o marco zero do que estaria por vir. Afinal, com a queda da obsessão alternativa da década de 1990, o metal emergiu das sombras em um admirável mundo novo: consolidado globalmente, ramificado em diversos subgêneros e, acima de tudo, não mais dependente de qualquer apelo popular ou estrutura comercial do eixo EUA–Inglaterra.
O mainstream poderia continuar sua incessante busca pela próxima grande moda, pois a globalização e a internet disseminavam informação e, agora, nações como Finlândia, Suécia e Alemanha dominavam o cenário. Todavia, mais tarde, os próprios norte-americanos gostaram da brincadeira e acabaram gerando uma nova onda de metal de alta qualidade: New Wave of American Metal (NWOAHM), influenciados pelo groove metal noventista do Pantera e pelo panorama europeu.
Não que o nu metal não fosse um movimento forte e interessante do rock no final dos anos 1990 e começo dos 2000, servindo como entrada para muitos jovens no universo da música pesada, mas foi um movimento que tentou antagonizar e se distanciar do metal mais tradicional. Ironicamente, o heavy metal passou por cima como um rolo compressor. Eventualmente, foram feitas as pazes.
Diversos subgêneros ganharam força nesses 25 anos, começando com o power metal e passando pelo melodic death metal, gothic, symphonic, industrial e metalcore. O subgênero mais popular pode até variar a cada ano, mas sempre há espaço para todos.
Ademais, inserir a música clássica/erudita no metal tornou-se algo comum e muito bem-vindo, seja em pequenos detalhes ou orquestrações completas. Mais tarde, algumas bandas agregaram também elementos eletrônicos, quase como uma evolução da visão do alemão Kraftwerk.
Outra mistura atraente foi o folk metal, que, embora não tenha sido inventado no século XXI, expandiu-se e permitiu que diversas culturas mostrassem um pouco de suas raízes folclóricas, da Noruega à Mongólia, com escala no sertão nordestino. O metal finalmente se tornou uma cultura global e sem fronteiras.
Nesse contexto, os maiores festivais do mundo entraram para o imaginário popular do headbanger: Wacken, Hellfest e Graspop se tornaram palavras obrigatórias no vocabulário de quem deseja entender o mínimo de metal.
Já os mais observadores passaram a conhecer e admirar os selos de gravadoras como Century Media, Nuclear Blast, Spinefarm e Napalm Records, que serviam quase como uma garantia de que o disco seria bom, principalmente antes da massificação do MP3 e, anos depois, do streaming.
Ainda na indústria musical, a capacidade de produção e mixagem deu um salto, mas a “loudness war” acabou priorizando o volume e a compressão, em detrimento das propriedades orgânicas do som.
Em tempos mais recentes, felizmente, o heavy metal segue ileso e alheio às execráveis modas que pretendem acabar com os álbuns completos e produzir “músicas” de poucos segundos, plastificadas sob medida para atender à falta de competência cognitiva de um público fissurado por vídeos banais em redes sociais imbecilizantes.
É claro que nem tudo são flores, pois a cena também viu surgir uma pá de bandas genéricas com vocais infanto juvenis chorosos, outros grupos tão “vanguardistas” que mal parecem estar fazendo música, além de fotocópias sem sal em todos os subgêneros.
Entretanto, o livre-arbítrio está ao alcance de todos. A quantidade de bandas tendendo ao infinito, a devoção inesgotável dos fãs e a disponibilidade de informação são fatores que garantem que o metal jamais irá desaparecer.
Assim, o grande destaque do cenário pós-2000 é justamente a pluralidade do espaço, onde muitas bandas antigas retornam com força para a estrada, enquanto grupos espetaculares surgem e tomam de assalto a cena, sedentos para expandir a definição do que é o metal. Para acompanhar quais são essas bandas que mais marcaram os últimos 25 anos, basta ao prezado leitor aguardar a parte II desta matéria, que sairá em breve. Façam suas apostas, e que venham os próximos 25 anos.