Nervosa e Black Pantera botam fogo nos racistas em show infernal no Rio de Janeiro

Curtir show na noite de sexta-feira é uma ótima pedida para expurgar todos os demônios concentrados ao longo da semana, os quais não são poucos, diga-se de passagem. A coisa fica ainda mais especial quando o rolê se trata de thrash metal e crossover, pois a certeza de voltar para casa livre, leve e solto como uma espécie de monge budista é absoluta e irrefutável.

Nesta sexta, 31, o Circo Voador, clássica casa de show do Rio de Janeiro, recebeu as porradas sonoras de Elm Street, Black Pantera e Nervosa. Chuva torrencial, alagamentos, calor infernal e trânsito caótico só acentuaram o teor implacável da noite.

Elm Street

Direto da Austrália, o quarteto veio fazer a sua primeira turnê pela América do Sul em promoção ao seu terceiro álbum, The Great Tribulation, que saiu em 2023. Das três bandas que pisaram no palco do Circo, ES foi o que mais trouxe para a festa nuances da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) e speed metal à la Helloween em Walls of Jericho.

Atraindo a atenção do público desde os primeiros acordes de seu set, Ben Batres (vocal e guitarra), Aaron Adie (guitarra), Nick Ivkovic (baixo) e Tomislav Perkovic (bateria) não economizaram energia em sons mais novos como Take the Night, A State of Fear e Behind the Eyes of Evil.

Foto: Livia Teles

É claro que canções antigas deram as caras na apresentação e não deixaram o nível de estamina oscilar para baixo, visto que é algo impossível quando se trata de Barbed Wire Metal, Heavy Metal Power e Face the Reaper. Os caras ainda trataram de homenagear o cantor Paul Di’Anno, ex-frontman do Iron Maiden que faleceu em outubro de 2024, com o cover de Running Free.

Em pouco mais de uma hora de concerto, o Elm Street fez o que toda banda pequena deveria fazer: causar uma boa impressão ao público e despertar o interesse para que novos fãs se juntem à família. Por parte da plateia que o prestigiou, o desejo e o convite para uma nova visita aos palcos cariocas estão mais do que valendo.

Black Pantera

Rápida mudança de equipamento para que o crossover mineiro do trio de Uberaba fincasse a sua bandeira na capital fluminense. O mote da atual passada no Rio é a promoção do álbum Perpétuo, o qual saiu em maio de 2024 e mistura melodia, ritmos brasileiros, peso e, claro, ativismo político e social.

Candeia foi a responsável por acender o pavio do candeeiro e fazer explodir o Circo Voador em um coral de vozes cantando o profundo verso: “Somos vela que incendeia a casa grande”. Se o fogo foi aceso com Candeia, Provérbios e Padrão É O Caralho elevaram a temperatura ao estado de ebulição.

Em um perfeito duelo de titãs, o trio, que é constituído por Charles Gama (vocal e guitarra), Chaene da Gama (vocal e baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto, provocava a plateia a cada instante pedindo mais agitação e participação. A plateia, por sua vez, rebatia com muitas rodas de pogo, inclusive uma contendo apenas as garotas, pulos e entoando cada verso e refrão das catorze canções do set.

Foto: Livia Teles

Sem lugar para as chagas morais da direita, extrema-direita e reacionários que cismam de forma pueril e delirante lhes consagrar algum tipo de sofisticação e profundidade intelectual, Fogo Nos Racistas deu o tom de como proceder com este tipo de gente: “Expõe pra queimar” e “Deixa queimar”.

O entretom de Fudeu, que ora ofereceu um groove à la Chick, de Nile Rodgers, e a ora descambou para o puro e simples crossover, foi pontual em deixar a apresentação mais dinâmica para quem fazia questão de se acabar na pista.

Boto Pra Fuder foi a coroação do Black Pantera no sacrossanto palco do Circo Voador. A intensa apresentação fundamentou o porquê de tanto holofote em torno do trio, que vem merecidamente aumentando o seu tamanho e importância na cena heavy metal nacional. E se depender dos fãs cariocas, o céu é o limite para o Black Pantera.

Nervosa

O último ato da noite ficou na responsabilidade do quarteto feminino comandado pela guerreira, vocalista e guitarrista Prika Amaral – completa a formação Helena Kotina (guitarra), Gabriela Abud (bateria) e Emmelie Herwegh (baixo) -, que não perdoou os ouvidos alheios com seu rolo compressor em forma de thrash metal.

A trinca venenosa de Seed Of Death, Behind the Wall e Death! fizeram as honras de darem o pontapé inicial no espetáculo das garotas. As performances das canções, entretanto, foram levemente prejudicadas por problemas técnicos na Kramer de Prika.

Ajustes feitos, a promoção do álbum Jailbreak seguiu com Nail the Coffin, Kill Or Die, Endless Ambition, Ungrateful e a faixa-título. O show também teve tempo para temas dos primórdios da banda, época em que atuava como um trio, e deste balaio vieram Into Moshpit, Hostages, Kill the Silence e Cultura do Estupro, esta última com a participação de Charles Gama no vocal.

Foto: Livia Teles

Comunicativa, atuando como a capitã do navio e contextualizando algumas músicas da apresentação, Prika interagiu com o público e chegou a comentar que aquele show estava sendo o maior da Nervosa em toda a carreira. A festa thrash metal teve quase vinte canções em seu menu, o que é bastante expressivo por conta do nível de estamina que o estilo demanda das artistas.

Antes de executar o derradeiro acorde da noite, Amaral destacou que agora em 2025 a Nervosa irá completar quinze anos de vida, ou seja, irá debutar. Dessa forma, ela prometeu que muitas boas surpresas vão surgir ao longo do ano. E como promessa é dívida, nós já estamos no aguardo dos presentes que irão despontar no horizonte.

E se depender do que as meninas mostraram na noite dessa última sexta-feira, 31 de janeiro, os fãs vão abrir o sorrisão de orelha a orelha, pois todo mundo foi para a casa livre, leve e solto e com certeza de que botaram fogo nos racistas em uma noite infernal no Rio de Janeiro.

Foto: Livia Teles

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