O Brasil é um país de proporções continentais, portanto, muitas coisas que acontecem aqui na terrinha ganha dimensões gigantescas, e no balaio artístico está também contemplada a cena rock n’ roll e heavy metal, que é bastante prolifica do norte ao sul, com bandas dos mais diferentes matizes sonoros da música pesada.
Contudo, poucos são os nomes que sabem e ou conseguem jogar o jogo do mercado fonográfico de maneira profissional, com metas a curto, médio e longo prazo, por exemplo. Quais são os motivos para tal realidade? Bem, eles são praticamente infinitos, mas, geralmente, passam pelo terreno da falta de grana, desinformação e acomodação.
No caminho inverso da desinformação e acomodação está a Crypta, banda relativamente nova, visto que iniciou os trabalhos em 2019, mas que goza atualmente de grande projeção no mercado doméstico e estrangeiro.
Formado por Fernanda Lira (vocal e baixo), Tainá Bergamaschi (guitarra), Jéssica Di Falchi (guitarra) e Luana Dametto (bateria), o conjunto vem de uma série insana de cerca de cento e cinquenta shows neste ano em promoção ao seu segundo disco, Shades of Sorrow, que saiu em agosto de 2023.
Há, inclusive, banda veterana do metal brasileiro com disco novo na praça que não fez um terço das apresentações que a Crypta realizou neste ano. E já tem nova turnê europeia agendada para o primeiro semestre de 2025. Portanto, goste ou não do som das garotas, elas sabem jogar o jogo da primeira divisão do mercado metal.
Underground Carioca
E a relação delas com o Rio é íntima, para dizer o mínimo! Dessa forma, o penúltimo show da Shades Of Sorrow Tour 2024 aconteceu no último sábado, dia 14 de dezembro, no Circo Voador, Rio de Janeiro, ao lado de pérolas do underground carioca: Trash No Star, Quantum e Hatefulmurder.
A chuva e a noite quente só colaboraram para a sensação infernal na capital fluminense, dessa forma, uma trilha no mesmo compasso sempre vem a calhar. Dito isso, o pessoal do Trash No Star, que está no mercado musical há mais de dez anos, fez as honras de dar o pontapé inicial no mini fest. O punk rock de Ágatha Silveira e companhia deixou boa impressão ao público que já dava as caras no arrasta-pé.
O quarteto do Quantum veio logo em seguida trazendo sua interpretação para o metal moderno à la Spiritbox e Jinjer. Sons autorais como Reborn e Eternal incitaram o público a fazer as primeiras rodas de mosh. Destaque para a cantora Lo Ferrera que conduziu com segurança a apresentação e foi certeira ao discursar em prol dos direitos das mulheres.
Hatefulmurder, banda liderada pela voz de trovão Angélica Burns, colocou ainda mais gasolina no fogo e fez o Circo Voador incendiar com temas de seu novo full-length, I Am That Power, e canções mais antigas. O conjunto se mostrou bastante desenvolto no palco e, sem dúvida, garantiu novos fãs após seu forte e certeiro set.
Crypta & Rio
Como diz o ditado popular: contra fatos não há argumentos! E é fato que a Crypta vem acumulando uma bagagem tremenda nos últimos tempos, principalmente com a promoção de seu novo álbum, como dito anteriormente. Shows ao lado de nomes pesos-pesados como Hatebreed e Carcass e presença em grandes eventos como Resurrection Fest, Sweden Rock Festival, Wacken Open Air e 70.000 Tons of Metal pesam a balança a favor da banda.
A apresentação na capital fluminense foi a consagração de todo o vigente labor das garotas, o qual fora patente em performances calorosas, grande fluidez e segurança técnica e um inteligente dinamismo no repertório, o que é essencial em concertos de death metal para que não imponha fatiga ao ouvinte.
Porradas como The Other Side Of Anger, Lord Of Ruins, Trial Of Traitors e From The Ashes ganharam grande aclamação do numeroso público que se acotovelava na pista para curtir cada detalhe da festa do metal da morte.
Esbanjando muito carisma e sorrisos, Fernanda Lira é definitivamente a frontwoman mais competente da música pesada nacional. Já as suas companheiras de front, Tainá Bergamaschi e Jéssica Di Falchi ostentam uma assombrosa harmonia e destreza nas seis cordas, enquanto Luana Dametto conduz o tanque de guerra a base de muitos blast beats.
Já passava de uma hora da madrugada quando o último acorde da noite fora tocado, e como foi bom ver o público voltar para casa cansado de tanto curtir, bangear, pular e gritar os versos das dezenas de músicas tocadas no lendário Circo Voador. E como foi ótimo também constatar mais uma vez que a cena metal do nosso amado/odiado Hell de Janeiro está viva, pujante e cheia de energia.