Knotfest Brasil é o circo do caos a dispor dos fãs de heavy metal

Neste sábado, 19 de outubro, os camisas-pretas encararam o mau tempo, com frio e chuvas intermitentes em São Paulo, para conferir o primeiro dia do Knotfest. O festival, ocorrido no Allianz Parque, possui curadoria da banda norte-americana Slipknot.

No campo do Allianz, o palco principal (Knotstage) e o palco secundário (Maggot Stage) foram dispostos lado a lado, onde as apresentações foram intercaladas de maneira fluída e sem atrasos.

No Maggot Stage, escalado somente com os talentos nacionais, os novatos do Kryour são uma banda para se ficar de olho. Mas o som do palco, embora alto, não estava bem definido, e problemas técnicos ainda prejudicaram os shows do Project46 e Ratos de Porão, que chegou a tocar no escuro. As bandas, contudo, entregaram energia e receberam o carinho do público.

No Knotstage, logo às 13 horas, a mais grata surpresa do lineup: Orbit Culture, uma das bandas mais elogiadas do cenário atual, que já adquiriu status cult no Velho Mundo. Os suecos executaram seu melodic death metal para um público ainda pequeno, porém bastante interessado, e o moshpit se formou ao som das porradas While We Serve e Vultures of North. Um “pontaço” para a produção do evento, ao demonstrar alinhamento com as tendências reais do universo metálico.

Em seguida, foi a vez do DragonForce contar suas estórias sobre fantasias e videogames, com muitos agudos e solos fritantes de guitarra. A banda interagiu bastante com o público e conferiu um tom de diversão despretensiosa ao show, como no inusitado cover do tema de Titanic (My Heart Will Go On).

Mas, obviamente, o que a grande maioria queria ouvir era Through The Fire And Flames, que se tornou um enorme sucesso nos anos 2000, devido ao jogo Guitar Hero, e foi a primeira música do dia a ser reverenciada por todo o estádio.

Quem achava que o grupo poderia ficar deslocado em meio a um lineup mais pesado precisou rever seus conceitos. De fato, um verdadeiro festival de metal deve agregar estilos diferentes, sem ficar preso a um besteirol “temático” como se convencionou fazer no Brasil.

Por sinal, a banda seguinte no palco foi diametralmente oposta. Os suecos do Meshuggah apresentaram seu som dissonante e muito pesado, conversaram pouco, e mantiveram o mosh em movimento com pedradas do calibre de Perpetual Black Second e Bleed.

Na virada da noite, começou a aguardada invasão viking. Com uma caprichada produção de palco e uma empolgação explosiva, que encaixa perfeitamente em festivais open air, o Amon Amarth realizou um dos melhores shows do evento.

O setlist foi impecável, muito bem escolhido: Guardians of Asgaard, Deceiver of the Gods, First Kill, Shield Wall, Crack the Sky, Twilight of the Thunder God, simplesmente não houve folga para respirar. O público não desanimou com o aumento da chuva e respondeu à altura da banda, formando vários pontos de mosh.

A essa altura, já era uma tarefa hercúlea ir aos banheiros do estádio (surpreendentemente limpos) ou conseguir algo para comer, devido às longas filas. A propósito, cabe pontuar que a oferta de comida foi um ponto negativo, pois esteve a cargo do próprio Allianz, sem uma preparação diferenciada para o festival. Isso se traduz em poucas opções, baixa qualidade e preços supervalorizados, assim como em um show regular ou um jogo de futebol.

Em conjunto com a infame “pista vip” ocupando grande espaço na frente do palco, e a falta de experiências extras de ativação, são quesitos que diminuem a sensação de um autêntico festival, cujo conceito é maior do que apenas bandas tocando em sequência. Nesse ponto, outros festivais, como Summer Breeze/Bangers e Monsters of Rock, aproveitam melhor o conceito.

Voltando ao palco principal, o Mudvayne mostrou domínio de audiência e foi ovacionado com os hits Happy? e Dig, que encerraram o show, além de originar um belo momento em World So Cold, quando o estádio foi iluminado pelos celulares do público.

Finalmente, chegou a hora de superar o cansaço, frio e chuva, para o momento mais esperado da noite: o show de 25 anos do Slipknot, que também marcava a estreia do baterista brasileiro Eloy Casagrande em território nacional.

E o que se viu, a partir daí, foi capaz de fazer qualquer espectador repensar suas definições de espetáculo. O circo do caos tomou conta do Allianz Parque, enquanto o público expurgava seus demônios e alcançava uma sinergia de níveis hipnóticos com a banda. Presenciar as vozes de um estádio lotado, berrando em uníssono com uma música tão agressiva e perturbadora, é realmente uma vivência arrepiante.

Além da química fortalecida da banda, que se mostra renovada, o setlist foi destaque do primeiro ao último minuto, composto somente pelos maiores hinos: Wait and Bleed, Before I Forget, Sic, Eyeless, The Heretic Anthem, Duality, Surfacing, Psychosocial, Unsainted, Vermilion, entre outras.

Nos intervalos, o público não perdia uma oportunidade para gritar o nome de Eloy, um dos melhores bateristas do planeta, que correspondeu às expectativas e esmurrou seu kit sem dó nem piedade durante a apresentação. Comentários como “orgulho nacional” e “melhor do mundo” também foram comuns de se ouvir durante todo o festival.

E assim, repleto de satisfação e a tempo de pegar o metrô, o público pôde deixar o estádio. Se o Knotfest possui amplo espaço para melhorias enquanto experiência completa de festival, seu headliner atingiu o ápice de uma experiência catártica. O Slipknot entregou não apenas o show do festival, mas o show do ano no Brasil.

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