A relação da mídia hegemônica com o rock n’ roll e heavy metal nunca foi amistosa; na verdade, a turma perfumada sempre amou odiar tais estilos musicais e, sempre que possível, coloca na conta deles a culpa de muitas chagas sociais e morais que cismam existir em nossa sociedade.
Com claro despreparo para a cobertura de shows e eventos de rock e metal, os agentes da desinformação zombam dos artistas, fãs e todo mercado em torno; além disso dão de ombros ao bê-á-bá da profissão, que é a preparação, aprofundamento do tema e apuração. Eles perpetuam essencialmente um guia do que não fazer para se tornar um comunicador.
Das infames e vexaminosas inexatidões de informações até as clássicas interpretações coalhadas de estereótipos e preconceitos, o jornalismo musical feito pela grande mídia é um desserviço à sociedade e à arte.
O mais novo exemplo de desvalorização e menosprezo de um artista da música pesada veio de uma revista de fofoca de celebridade. Na manchete da matéria, o profissional teve a brilhante ideia de nos “apresentar” o guitarrista Slash, como se o músico fosse um completo desconhecido no meio musical, um anônimo que caiu de paraquedas no mercado fonográfico.
Cabe explicar que o guitar hero do Guns N’ Roses, e Wolfgang Van Halen, frontman do Mammoth WVH, se juntaram ao ator Ryan Gosling para uma performance de I’m Just Ken neste domingo (10) no Oscar 2024.
Caro colega de profissão, enquanto Ryan Gosling era apenas um rostinho angelical no Disney Channel e ainda precisava de ajuda da mamãe e do papai para ir ao banheiro, Saul Hudson já tinha vendido milhões de cópias ao redor do globo com os premiados Appetite for Destruction (1987), Use Your Illusion I (1991) e Use Your Illusion II (1991).
Alguém pode chiar que estes álbuns só perambulam pelos corredores sombrios e úmidos do rock e metal! Ledo engano! Os discos fazem parte da cultura pop dos últimos trinta anos, assim como a figura de Axl Rose e sua dancinha à la lagartixa albina e Slash com sua indefectível cartola e guitarra Gibson Les Paul.
Ah, e não precisamos citar a parceria do guitar hero com o rei do pop, Michael Jackson; o Grammy e a estrela na calçada da fama, certo?
As pessoas podem até não curtir o som do GN’R e do Slash, no entanto, desconhecer a figura do guitarrista com a cartola, cigarro no canto da boca e cabelo encobrindo parte do rosto é simplesmente impossível.
O elemento central do jornalismo é tornar o real em algo compreensível à sociedade. A tarefa do comunicador é, diante de um universo de fenômenos e fatos, avaliar e atribuir valor aos acontecimentos e partilhá-los com a comunidade.
Mesmo assim, há certos conceitos, fatos e eventos que já estão mais do que impregnados na sociedade, logo, tentar esclarecê-los é no mínimo um movimento de pouca ou nenhuma valia e sentido.