O mercado brasileiro está repleto de músicos virtuosos: não importa o estilo ou o instrumento, os músicos nacionais transbordam técnica, além de muita criatividade e originalidade. Um dos que foi mostrar os dotes brasileiros ao público e mercado estrangeiro fora o guitarrista carioca Kiko Loureiro (ex-Angra, ex-Supla, ex-Dominó) ao integrar por nove anos o grupo de thrash metal Megadeth.
Em conversa com o YouTuber Igor 3K, do podcast Flow, Loureiro relembrou o convite para integrar o Megadeth, banda liderada a punhos de ferro por Dave Mustaine (vocal e guitarra).
“Eu estava indo para os Estados Unidos fazer alguns evento, com isso resolvi ficar lá, mas sem muitos planos. Na época, o Angra está meio num hiato. Fui para ficar seis meses, e acabei ficando um tempo maior lá.
Aí, teve um show aqui no Brasil …um festival na Bolívia em que o Angra tocou, e o headliner era o Metal All Stars. Estava o Zakk Wylde (Pantera, Black Label Society, ex-Ozzy Osbourne); o cantor do Queensrÿche; o baixista do Megadeth, David Ellefson; o baterista que era do Black Sabbath, Vinny Appice; um cara do Manowar; James LaBrie (Dream Theater); Max Cavalera (ex-Sepultura). Tipo All Stars mesmo, com essa galera toda! O show era para tocar covers dessas bandas.
Um dos guitarristas era o Gus G. que estava tocando com Ozzy, na época. Ele teve um problema no visto e não foi para o show da Bolívia. E estou lá no hotel, com o Angra, e o produtor veio falar comigo que o Gus G. não tinha vindo e ninguém consegue tocar Dream Theater e Queensÿche, porque é muito difícil, e o cara me chamou para tocar.
No começo eu não topei, porque era para salvar a pele do produtor, de um cara que eu nem sabia quem era. Mas aquele fã dentro de mim falou mais alto, então, topei uma música com Geoff Tate, o vocalista do Queensÿche. Aí, fui lá no quarto dele, a gente ensaiou a música.
Na performance ao vivo dessa música, estava o baixista do Megadeth, Dave Ellefson; Geoff Tate e o baterista do Sabbath. Acabei tocando uma do Sabbath e uma do Queensrÿche, nesse evento da Bolívia.
Dois dias depois, os caras estavam em São Paulo, com o mesmo projeto e com o mesmo problema, que era a falta de Gus G. para tocar as músicas. Eles me ligaram de novo e me chamaram para tocar, e eu acabei tocando.
E o Ellefson pediu meu telefone, porque na época os caras estavam tentando fazer a reunião da formação do Rust in Peace: Mick Menza (bateria) e Marty Friedman (guitarra). Eu não sei os detalhes, mas não rolou. Então, eles ficaram sem baterista e guitarrista, porque os músicos da época ficaram chateados com essa história de reunião e saíram fora.
O Megadeth ficou com o Dave Mustaine e David Ellefson, mas precisando de um batera e um guitarrista. O Mustaine recebeu uma lista de guitarrista, e eu estava lá nessa lista; ele viu uns vídeos meus na internet e gostou. Ele ligou para o Ellefson, falou que tinha gostado de mim, e o Ellefson falou que tinha tocado comigo tempos atrás no Brasil e que tinha o meu contato.
Primeiro veio um e-mail avisando que Dave Mustaine ia me ligar; depois ele me ligou, mas eu estava tossindo muito. Ele falou: ‘quando você estiver bem, você me liga de volta’. Dois dias depois eu falei com ele, mas acabei vendo um monte de vídeo do Megadeth, documentário e tudo mais que tivesse sobre a banda.
Eles me chamaram para ir para Nashville, eu estava em Los Angeles; eles não pediram, mas eu tirei quatro músicas, fiz um vídeo e mandei. Eu sabia que eu tinha capacidade de tocar as músicas do Megadeth; tinha experiência de estúdio, conhecia bem o estilo – eu conhecia essa onda do Marty Friedman e do Megadeth, que é tão Slayer. Para o Slayer eu não conseguiria tocar legal.
O guitarrista solista do Megadeth é técnica e virtuoso. O Megadeth é mais virtuoso do que essas bandas do thrash metal, eles são um pouco mais progressivo.
Mas eu liguei para os caras do Angra e expliquei, e eles falaram que se rolasse era para eu abraçar. Eu fui lá e rolou”.