Desde sua fundação, o público de rock n’ roll e heavy metal é composto por jovens de oito a oitenta anos. Os dois estilos musicais foram abiscoitando uma sólida reputação, foram ganhando corpo e respaldo de grande fatia da sociedade e já até destronaram a música pop dos primeiros lugares das paradas.
Ao longo dos anos, os irmãos rock e metal não se estagnaram e se fundiram a muitas outras texturas sonoras, principalmente na década de 1980. Do thrash metal ao glam rock; do death metal ao power metal; do black metal ao industrial metal, muita coisa fora cultivada e colhida em tal época.
O único trabalho da turma oitentista era selecionar os frutos que mais se adequavam ao seu gosto e se lambuzar sem moderação; fosse no formato LP ou cassete – ou mesmo naquela cópia que vinha de um outro K7 -, que era o formato artesanal de compartilhamento de música da época; importante era curtir as novidades musicais que pintavam na cena.
Dito isso, queremos rememorar 7 álbuns que marcaram o ano de 1984. Não vamos percorrer o submundo da música de tal ano – não desta vez, quem sabe no futuro – mas queremos apenas relembrar o impacto e a importância que tais discos causaram na cena musical da época.
Iron Maiden – Powerslave
O quinto registro de estúdio do Maiden foi a sua coroação como membro do primeiro escalão do heavy metal. O quinteto deu vida a uma obra musical profunda e sofisticada; os caras, apesar do pouco tempo hábil para criar o trabalho do zero, usaram as melhores cartas à disposição para um royal flush e faturar a mesa toda.
Metallica – Ride the Lightning
Uma coisa que nunca faltou ao Metallica é o ímpeto de se arriscar musicalmente. O primeiro álbum, Kill ‘Em All, por exemplo, era ríspido e urgente, no entanto, caso os caras seguissem tal trilha sonora, possivelmente gravitariam na orbita do underground. Mas eles queriam mais, muito mais.
A escalada ao cume começou no ousado Ride the Lightning! Dosando a mão no peso e adicionando boas doses de melodias, o quarteto deu vida à pérolas musicais atemporais – praticamente quarenta anos depois, as músicas do álbum ainda são sinônimos de agitação em seus shows.
Destaque para as letras mais emotivas e para performance de James Hetfield, que deixou o quê caótico do disco anterior de lado para se concentrar em dinâmicas mais acessíveis. Gol de placa, Papa Het!
Twisted Sister – Stay Hungry
Para o seu tio Zé Tião, que é caminhoneiro, toma Natu Nobilis no café da manhã para firmar o pulso, usa conhaque como enxaguante bucal e só ouve Milionário & José Rico, Dee Snider e companhia são apenas uns caras tentando se parecer com as bonecas que sua filha brinca.
Porém, Dee e seus companheiros foram a pedra no sapato dos supostos cidadãos de bem da época, que pregavam valores como família e religião. Soa familiar para vocês? Enfim! Com um hard rock vibrante; doses cavalares de ironia e deboche e, claro, toneladas de maquiagem, a banda tomou de assalto o player da garotada embalada com frases como “I wanna rock” e “We’re not gonna take it”.
Assim como no videoclipe dos hits I Wanna Rock e We’re not gonna take it, a molecada se sentia empoderada a deixar o cabelo crescer, usar camisetas de bandas [mesmo as artesanais, feitas em casa] e buscar uma guitarra para perturbar a vizinhança.
Van Halen – 1984
Eddie Van Halen, que era o maestro do grupo, sabia que a concorrência estava acirrada: muita gente aportando nas paradas com álbuns recheados de hits, ou seja, as opções eram simples: fazer parte da festa ou se contentar com a segunda, terceira divisão da música – ou pior, jogar no campinho de terra entre os times de várzea.
Adoçar ainda mais o hard rock do quarteto foi a solução! Dessa forma, o seminal 1984 ganhou o mercado e as paradas de sucesso, diga-se. Espertos como poucos, os caras entrelaçaram o virtuosismo musical às melodias doces de Jump, Panama e Hot for Teacher. O saudoso Eddie sabia das coisas!
Dokken – Tooth and Nail
Quem vê cara, não vê som! A gente sabe que os cabelos dos caras mais pareciam o poodle da tia Gertrude e as calças de spandex tinham mais cores que um episódio do desenho animado Ursinhos Carinhosos, contudo, ninguém pode reclamar do som; Don Dokken, George Lynch, Jeff Pilson e Mick Brown entendem do riscado e fazem um hard rock de primeira qualidade.
Se tem dúvida, é só aconchegar o fone de ouvido em seu canal auditivo e se deliciar no repertório de Tooth and Nail. É bem provável que Alone Again e Into the Fire, por exemplo, não saiam de sua playlist.
Mercyful Fate – Don’t Break the Oath
Falar de heavy metal oitentista e não trazer Mercyful Fate para conversa é um crime inafiançável! Don’t Break the Oath é o praticamente um filme terror em forma de música; ou um ritual para invocar e ou louvar o Satanás e toda sua trupe.
Musicalmente, o disco desfila um repertório em que ostenta performances poderosas de King Diamond e Hank Shermann; o trabalho é digno de ser um fúria de titãs, com um belo embate entre o gogó de King e as linhas virtuosas impostas por Hank.
Dio – The Last in Line
Depois de pedir o chapéu e sair fora do Black Sabbath, Ronnie James Dio mergulhou com tudo para fazer com que sua empreitada musical solo vingasse. O primeiro registro Holy Diver, de 1983, fora super bem nas paradas e em vendas; todavia, foi sorte de principiante? Claro que não, mas Ronnie queria espantar qualquer sombra de dúvida que pudesse pairar no ar.
The Last in Line chegou com essa responsabilidade e provou todo o poderio sonoro da trupe regida pelo saudoso baixinho-gigante do metal. Repertório maduro, com oportunidade para que todos os músicos brilhassem é um dos trunfos do disco. Era o Dio em seu auge!
Era isso mesmo que rolava por aqui (com exceção do Dokken que nunca fui muito fã).
Escolhas foram certeiras! Que nostalgia! Parabéns pelo texto muito bem escrito!
Faltou mais alguns clássicos, como Love At First Sting [Scorpions], Defenders Of The Faith [Judas Priest] e Slide It In Whitesnake, mas realmente 1984 foi uma ano incrível pro Metal.