É inegável que a cena rock n’ roll e heavy metal, desde sua formação, vem sendo governada com punhos de ferro pelo público masculino. Ancorados pelos alicerces da rebeldia e transgressão, os estilos, no entanto, logo foram cooptados e incorporados às estruturas históricas de ordem masculina e intrinsecamente perpetrados como um reduto de homem.
Trocando em miúdos, o quê subversivo já encontrou sua primeira rachadura nesta conversão praticamente absoluta ao tal clube do bolinha. O rock e metal essencialmente caíram na malha do sistema em voga na sociedade e os tr00zões e barizões de plantão, pois, pouco se importaram – quiçá se deram conta do alinhamento patriarcal e a adesão às conformidades conservadoras.
Na visão sexista e míope destes tais “guerreiros do rock e metal”, a presença feminina vem sendo tolerada como um mero ornamento ao ambiente, quase como uma forma de NPC, e como objeto sexual. Essa perspectiva grotesca não ganha vida apenas no único muquifo de seu bairro que toca Guns N’ Roses e Metallica; essa concepção vem do topo da pirâmide, de algumas das principais bandas do mercado.
Contudo, por meio de muita luta, coragem e consideráveis doses de paciência, as mulheres vêm, ao longo dos últimos anos, forçando um importante e bem-vindo processo de mutação no ecossistema roqueiro e metaleiro.
E a atuação feminina não está nas entrelinhas, reservada a uma tímida atividade e presença de fundo de palco; muito pelo contrário, as mulheres estão comandando a cena da música pesada, são as estrelas da festa, o que tem garantido um desejado frescor e chacoalhão a tais estilos musicais.
Para quem pouco ou nada conhece da atual atuação feminina no mercado fonográfico e está interessado em saber, aqui vai um rápido passeio pelo o que está rolando. É simplesmente impossível não começar com a guitarrista Nita Strauss, musicista que vem colecionando conquistas e mais conquistas com seu playing virtuoso e energético. Não é à toa que Nita tem estampado as capas das principais revistas de guitarra em todo o globo.
Ainda no campo das seis cordas, da mesma forma que Strauss, Sonia Anubis, Sophie Lloyd, Lari Basilio, Gina Gleason, Orianthi, Samantha Fish, Reba Meyers, Britt Lightning e Courtney Cox, tendo como exemplo, chamam atenção pela técnica apuradíssima, capricho nas composições e performances avassaladoras.
Baixistas e bateristas também estão fazendo bonito e ganhando expressivos e merecidos holofotes no mercado fonográfico. Nomes como Anika Nilles, Tal Wilkenfeld, Rhonda Smith, Mia Wallace, Madden Klass, Eleni Nota, Julia Lage e Tanya O’Callaghan têm agraciado o público com muita musicalidade e maestria técnica.
E as vocalistas? Calma lá que tem um bocado de nomes deixando a cena contemporânea mais plural e deveras mais interessante. Tatiana Shmailyuk, Courtney LaPlante, Lena Scissorhands, Taylor Momsen, Amalie Bruun, Poppy, Larissa Stupar, Elin Larsson, Johanna Sadonis, Ann-Sofie Hoyles, Alissa White-Gluz, Heidi Shepherd, Carla Harvey e Diva Satanica estão entre as moças que têm abrilhantado e agitado as estruturas do rock e metal.
Ademais, bandas essencialmente formadas por mulheres estão ocupando uma considerável fatia do negócio, e isto é uma realidade tanto na indústria doméstica quanto internacional. Grupos como Crypta, Nervosa, Konvent, Cobra Spell, Burning Witches e Lovebites têm marcado presença nos principais festivais e eventos de som pesado.
O trabalho destas bandas e artistas – e entre outros nomes não citados – têm agitado a difícil vida fácil do rock e metal. Com muita inspiração, habilidade e carisma, as moças estão à vontade no sagrado templo da música: o palco. Elas dançam, pulam, correm e cobrem cada brechinha do tablado.
Além disso, as musicistas estão servindo um grande serviço à sociedade, já que estão proporcionando uma oportunidade de amadurecimento e refinamento ao público. Os mais espertos sacam tal movimento e mergulham com tudo na festa; outras pessoas, digamos, mais lentas, ficam no submundo das redes sociais lamentando e chorando o fato das mulheres dominarem a presente cena musical.
Se nos apegarmos aos conceitos estruturalistas e conservadores devemos concluir que o rock e metal estão fadados ao ostracismo e possível extinção. Por sorte temos atualmente no comando das cenas as mulheres: protagonistas, que vieram nos salvar de um provável futuro desolador.
Não se pode esquecer de Lee Aeron, canadense, fera também