O rock n’ roll e, principalmente, o heavy metal nasceram, cresceram e fixaram morada nas vielas escuras do underground. Em específicos momentos um dos descendentes do rock, o açucarado e energético hard rock, alcançou um raio maior de atuação e figurou no mainstream bancado por sons como Sweet Child O’ Mine e Patience (Guns N’ Roses), Livin’ on a Prayer (Bon Jovi) e Wind of Change e Still Loving You (Scorpions).
O heavy metal, bem como sua prole formada por estilos como thrash metal, death metal, power metal, entre outros, parece ter se contentado a atuar sob os limites impostos pelo mercado, mídia e público. Algumas das compulsórias demarcações exigidas pela citada troika contemplavam a conservação do DNA musical, manutenção do peso, riffs e solos das canções, o não contato e flerte com outros gêneros musicais e assim por diante.
No começo dos anos 90, o Metallica, embalado pelo ímpeto e espírito do é agora ou nunca, deu de ombros às crenças de terceiros, rasgou a constituição do heavy metal e lançou sua maior obra artística, ao menos pelo viés comercial, que é o Metallica – carinhosamente apelidado de Black Album.
Os fãs ortodoxos, que já consideravam Fade to Black, do álbum Ride the Lightning (1984), uma heresia aos deuses do metal, espumaram ainda mais pela boca e mostraram pouco, quiçá nenhum, apreço pelo disco ao se deparar com sons do quilate de Nothing Else Matters e The Unforgiven.
Acusações de ser uma banda vendida e rendida aos interesses do setor mainstream do mercado fonográfico batiam à porta do quarteto de forma sistemática. Contudo, na altura do campeonato, o fã mais astuto – e menos Barizon – já tinha percebido que Metallica não era um conjunto unidimensional: não havia receita de bolo em sua arte; nenhum álbum era igual ao outro. Então, o fãs que quisessem entrar em rota de colisão com tal fato se mostravam, no mínimo, tolos e fora do esquadro Metallica.
Em Black Album, a banda mudou definitivamente sua trajetória e carreira, bem como a cara do heavy metal! Os coaches de plantão cravariam que o grupo furou a bolha! Ache bacana ou não o termo, o fato é que o quarteto adentrou e estabeleceu residência em territórios os quais nenhum outro grupo categorizado como heavy/thrash metal pôde e ou conseguiu chegar.
A estética sonora imposta nas doze canções do disco mudaram os parâmetros das produções musicais, desde então. Som pesado, mas polido; atenção redobrada às dinâmicas de tempo e timbragem e o sensível equilíbrio entre os riffs e solos potentes e os contrapontos melódicos garantiram ao público uma audição prazerosa e animada, sem o caráter sisudo que é tão peculiar ao estilo.
O fenômeno Black Album foi tamanho que o álbum já bateu a marca de trinta milhões de cópias vendidas, ou seja, é o álbum de heavy/thrash metal mais vendido de todos os tempos. No entanto, o Metallica pode receber o título de maior e mais icônico disco da música pesada? A discussão é boa e pode render horas e horas de bate-papo, que pode ser na mesa de bar, tomando algum molha goela.
Icônico. Tinha 15 anos em 1991 quando comprei o LP e estranhei uma das minhas bandas favoritas tocando nas rádios e TV. Fui ao show deles em 1993 no estádio do Palmeiras e confirmei: o mundo se rendeu ao grunge e ao rock pesado. Tivemos outro grande momento assim 10 anos depois, com Linkin Park e Slipknot, depois nunca mais.