A saga do Guns N’ Roses, que poderia ser o alter ego do frontman Axl Rose, visto a dualidade de sua personalidade ora calma e ora explosiva, teve início na badalada cena oitentista de Los Angeles. A gênese do nome da banda, que não é segredo a ninguém, veio da alquimia dos nomes de dois conjuntos que davam o que falar em L.A.: Hollywood Rose e L.A. Guns.
O resto da história é facilmente previsível: Os caras perceberam que tinham mais pontos em comuns do que discrepâncias, então partir para a criação de um próprio repertório era o passo mais do que óbvio.
O teor musical endossado pelo quinteto era de dar medo e calafrios em qualquer purista do rock n’ roll, já que as guitarras e vocais afiados diretamente importados da década de 1970 receberam doses cavalares do deboche e androgenia de nomes como New York Dolls e T. Rex. Não era, contudo, uma mistura inédita, mas caiu como uma luva para Rose, Slash, Duff, Izzy e Steven.
Há décadas, a boca miúda espalha por aí que o Guns N’ Roses é um Ctrl+C e Ctrl+V de Led Zeppelin, o que é uma injustiça pois o título de cópia deliberada dos ingleses pertence ao Kingdom Come. Contudo, se não é clone musical de Zeppelin, é fato que bebeu muito na fonte Robert Plant, Jimmy Page, John Bonham e John Paul Jones, o que não há demérito algum, diga-se de passagem.
Appetite for Destruction, todavia, veio cercado de uma vibração mais raivosa e eletrizante do que fora proposto e praticado por Zeppelin na década anterior. O álbum era como um mata-borrão das vivências, personalidades e aspirações de Rose e companhia, por isso transpirava fúria, adrenalina e vigor em cada nota, solo e riff.
O quê de ingovernabilidade dos músicos foi canalizado para a criação de um repertório profundo e explosivo, mas essa foi, infelizmente, a primeira e única vez que o GN’R sacou tal metodologia de trabalho. O sucesso estrondoso de Appetite for Destruction trouxe uma confortável sensação de segurança e infalibilidade, o que é uma armadilha fatal a quem queira se aventurar na área criativa.
Sem o apetite por destruição, o som foi amansado e, em pouco tempo, a banda flutuou para um exagerado e afetado hard rock de arena. Antes à sombra e guardado a sete chaves, o estrelismo e estilo de vida flamboyant dos músicos irromperam e ganharam protagonismo maior que a música.
O produto de citada guinada de curso foi a formatação de projetos megalomaníacos como Use Your Illusion I (1991) e Use Your Illusion II (1991), que são pretensamente pomposos, mas que carecem de energia e disposição. É aquele esquema: Grana e fama entram pela porta da frente, criatividade e genialidade saem pela porta dos fundos.
Dito isso, não é exagero afirmar que Appetite for Destruction é o único álbum que presta do Guns N’ Roses, já que o resto é só perfumaria musical para agradar e enganar fãs histéricos.
Onde assino?
Concordo em partes. Curto os “Use your illusion”, inclusive do som mais “pomposo”, só acho que poderia ser um disco só, aí sim seria matador. Pra que duas “Don’t cry” cara?!
E o Lies? Eu adoro as músicas do Lies.
Os discos Lies e Use Your Illusion I e II não são ruins. O problema é que o álbum Appetite for Destruction é extraordinário, uma verdadeira obra de arte.
Se conseguirmos ouvir Lies e UYI I e II sem compará-los com o Appetite, ou seja, esquecermos que esta gravação um dia existiu, encontraremos músicas boas nos demais materiais citados.
Mas, ao confrontar Appetite com as outras obras do grupo Guns n’ Roses, a excelência daquela demonstrará que as demais não estão à sua altura.
Da mesma forma, ao compararmos isoladamente os trabalhos das bandas que mais gostamos com o Appetite, veremos que é muito raro algum deles chegar ao mesmo nível. E isso não quer dizer, de maneira alguma, que os CDs dos outros artísticas não são bons, mas apenas que realmente é difícil encontrar um lançamento que agregue tantas faixas inéditas excepcionais quanto Appetite.
Se é difícil para qualquer banda apresentar um projeto com repertório único integralmente elevado, fica quase impossível para a G’n’R repetir essa proeza, uma nova seleção que, de tão boa, pareça até se tratar de uma coletânea. Isso seria como ganhar duas vezes o prêmio máximo da loteria.
Em suma, o brilho de Appetite for Destruction pode até ofuscar as demais estrelas nascidas de Guns n’ Roses, mas sabemos que elas estão lá e possuem luz própria.
Concordo, em parte. Acho o álbum o trabalho mais expressivo da banda, indiscutivelmente o melhor!
Já o álbum ‘Lies’ também considero uma boa obra, compartilhando do vigor e criatividade do ‘Appetite…’, refletindo aquela boa e vibrante energia e inovação de uma banda em início de carreira.
O ‘Use Your Illusion’ já achei um disco fraco, como um todo. Pontualmente, tem suas pérolas, atualmente já clássicos do GNR. Talvez se fosse um álbum único, seria mais impactante mesmo. Mas a forma original dupla, tem efeito sonífero…
Quanto ao ‘Spaghetti Incident’, tem algumas poucas boas faixas, mas nos mostra uma banda cansada, pedante e um tanto vazia de criatividade com pouco tempo de carreira… Um álbum só de covers? Achei demais. Da mesma forma que não concordo de forma alguma com regravações comemorativas de álbums (vide Manowar e Paradise Lost, ultimamente).
Por fim, o ‘Chinese Democracy’… Tão esperado, adiado (e odiado!), por crítica e público! No entanto, apesar da demora e da reprovação massiva que sofreu, acho-o muito bom. Resgata um pouco desse vigor e criatividade dos primeiros tempos. Porém, exibe a maturidade da banda bem demonstrada em suas composições. Enérgico e vibrante, conta com ótimos músicos, especialmente os guitarristas Bumblefoot, Buckethead e Richard Fortus. Grandes músicas, bons riffs e solos magnéticos. Enfim, um grande álbum do GNR, que merece mais audição e atenção!
Concluindo: a carreira do GNR é bem irregular. O ‘Appetite…’ é realmente (e infelizmente!) o ápice de sua discografia, e até agora, inigualado. Porém os álbuns ‘Lies’ e ‘Chinese’ são grandes destaques na carreira de Axl e Cia.