No final dos 60, a vibe paz e amor da turma hippie tinha eco em boa parte da juventude britânica e norte-americana. A turma da alpargata e essência de patchouli encarava a vida de forma meio desconexa com a realidade, que era mais dura e acinzentada do que as suas coloridas e felizes roupas florais.
E é claro que tinha uma fatia da juventude que conseguia enxergar o retrato fidedigno de tal época, isto é, a garotada notava o caos em todas as esferas sociais. Eles sentiam no corpo e na alma que algo estava errado com a sociedade e que os ideais hippies eram apenas uma quimera, uma perfumaria.
Com isso, criar uma música que representasse tal ecossistema obscuro e lúgubre era mais do que preciso e bem-vindo. Coube a quatro jovens de Birmingham: Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) a tarefa de dar vida ao Black Sabbath e, consequentemente, ao heavy metal, um dos estilos musicais mais temidos pelo grande público.
A temática do Sabbath era bastante insólita para os padrões da época, pois vinha embebida a ocultismo, crítica e deboche. Muita gente atrela a edificação do metal a troika composta por Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin, no entanto, a pecha de enviados de Satã somente recaiu em Tony Iommi e companhia.
Mesmo com a trajetória tempestuosa, a banda se impôs às intempéries e vingou com a união de todos os elementos criativos trazidos por seus integrantes.
Tony era riff master, o bastião que apontava os caminhos sonoros; Geezer se alinhava a Iommi condensando o teor musical em letras bem sacadas, cínicas e provocadoras. Bill colaborava com ingredientes musicais importados do jazz e blues; já o Madman contribuía com sua voz e carisma ímpares.
Na superfície do som do grupo os riffs pesados sempre imperaram! Foi uma dinastia que perdurou do primeiro ao último álbum da banda. Portanto, a fúria musical do quarteto tinha que manter-se interligada a um corpo lírico substancial e profundo, e essa era a especialidade de Butler.
Leitor voraz, Geezer sempre mostrou uma imensa intimidade com as palavras, o que o distinguia de seus pares que tratavam suas criações com certo apelo superficial e, até mesmo, infantil. Deste modo é natural que o músico se tornasse uma espécie de arma secreta dos pais do heavy metal e o terror dos cidadãos de bem da época que se sentiam aterrorizados pelos versos do teor de Black Sabbath, N.I.B., Sabbath Bloody Sabbath, Sweet Leaf, War Pigs, entre outras pérolas.
“What is this that stands before me? Figure in black which points at me. Turn around quick, and start to run. Find out I’m the chosen one – Oh no! Big black shape with eyes of fire. Telling people their desire. Satan’s sitting there, he’s smiling. Watch those flames get higher and higher. Oh no, no, please God help me!
Child cries out for his mother. Mother’s screaming in the fire. Satan points at me again. Opens the door to push me in. Oh No! This is the end my friend. Satan’s coming ‘round the bend. People running ‘cause they’re scared. You people better go and beware! No! No! Please! No”.