O filósofo alemão Friedrich Nietzsche denominou o comportamento de efeito manada como uma situação em que indivíduos em grupo reagem da mesma forma, embora não exista direção planejada. A explanação do pensador é claramente uma referência ao comportamento de fuga coletiva de animais de uma mesma espécie, que usam a estratégia como uma forma de proteção, por exemplo.
Por mais que fira a vaidade de algumas pessoas, o homem é um animal e ponto final. Mas possui a capacidade de acumular conhecimentos, inovar e lapidar procedimentos e transmitir todo o entendimento aos indivíduos de sua espécie. Em resumo, evoluímos pela cooperação e capacidade analítica. Apesar disso é fácil reconhecer em nosso cotidiano ações que remetem ao comportamento dos animais irracionais, e uma delas é o procedimento de manada.
Puxando a brasa para o nosso campo de atuação que é a música, especificamente o rock n’ roll e heavy metal, a influência entre as pessoas é clara e evidente, afinal somos seres sociais. Contudo, somos também seres com capacidade crítica e reflexiva, então podemos – e devemos – avaliar uma canção, álbum, apresentação ou banda por conta própria.
Manter-se aberto e acessível às dicas e recomendações de amigos e mídia são atalhos válidos que ajudam no descobrimento de muito som bacana. Mesmo assim, o indicador crítico deve permanecer ligado e em uso, a fim de não cair nas armadilhas do modus operandi da manada.
Entretanto, a realidade tem nos mostrado um panorama inóspito e de difícil semeadura, pois o senso crítico dos fãs têm sido enterrado a sete palmos do chão. Tal fenômeno tem acometido o público de todas as idades há alguns anos. Ainda que a avaliação de uma arte seja subjetiva, ou seja, está aberta a mil e uma interpretações do público, muita gente a critica ou desaprova por conta da orientação da massa. Já diriam os nossos avós: É a Maria vai com as outras.
A famigerada parceria do Iron Maiden com o vocalista Blaze Bayley, por exemplo, é massivamente criticada pelo público. Parte dos fãs amam odiar os álbuns The X Factor (1995) e Virtual XI (1998); contudo, muita gente que condena os discos à guilhotina pouco ou quiçá os ouviu, tampouco prestigiou um show do grupo com o cantor, e acabam vociferando o julgamento perpetrado por outrem.
A balança também pende para o outro lado, pois o indivíduo pode ser a voz dissonante e não curtir determinados grupos que são percebidos pelo mercado e grande público como unanimidades. Um bom exemplo é o Guns N’ Roses, que fez, pelo menos para este que voz fala, somente um bom álbum [Appetite for Destruction], mas é cortejado pela multidão como uma das maiores maravilhas do mundo.
Seja para evitar o confronto de ideias e rotas de colisão, seja pelo medo de se sentir vulnerável e solitário ou pela segurança de ser aceito por determinada comunidade, o comportamento de manada está a cada dia transformando a cena rock e metal num ambiente pasteurizado e sem personalidade, no qual a forca e a guilhotina são os destinos certos para quem ousar pensar e agir de forma unilateral.
Adaptar-se ao espírito do tempo pode oferecer algumas benesses, mas ter a plena reflexão individual para escolher o que é bom ou ruim para si é uma dádiva que não deve ser barganhada com absolutamente ninguém.
Bom artigo. Mas além do efeito manada, também não podemos esquecer que muitas bandas, apenas apelam para o mínimo denominador comum. Produtores e músicos atualizados, sabem os atalhos para fazer um som mais acessível, que vai agradar mais pessoas. Pegam uma versão demo de uma música que poderia ser mais elaborada, mas de menor chance comercial, e a picotam e remodelam, de forma a potencializar vendas, e assim também, se faz um som mais pasteurizado. Pra mim, o tópico efeito manada é complicado, pra eu sou o tipo de pessoa que sente mais atração pelo estranho, pelo pouco aceito. Vídeo Game, detesto o popular Playstation, prefiro o Xbox. Todo mundo detona o Blaze Bayley no Maiden, eu acho bem bacana. Não é exatamente um time desconhecido, mas sou Palmeiras, não Corinthians ou Flamengo. E por aí vai pra filmes, jogos, música, etc. Óbvio, eu gosto de algumas coisas que a maioria gosta também, ninguém é imune a isso, mas gosto porque realmente gosto, não porque vi que todo mundo gostava, e me senti obrigado a gostar. Hoje muitos adoram Mastodon, Gojira, Ghost, Jinjer, eu acho essas bandas um porre e sem sal.
Boa reflexão. Pensar por si só, hoje, é um exercício que poucos fazem uso. Buscar novas bandas, ouvir um álbum inteiro e ter opinião divergente da maioria é escasso hoje em dia e te coloca em um limbo cultural, por assim dizer.
É verdade que critico os albuns com o Blaze Bayley, porém os escutei antes de criticar (por exemplo, também não curto os dois primeiros albuns da banda) mas tem músicas que consigo gostar dos quatro albuns, tenha por exemplo The Clansmen, Lord of the Flies, Sign of the Cross, Murder in Rue Morgue, Prowler e Phantom of the Opera. Concordo bastante com sua opinião sobre Guns n’ Roses e acho que há um grande efeito manada sobre novas bandas que está destruindo o metal, tenho um irmão mais novo do qual apresentei ao metal quando eramos pequenos e até hoje ele é um grande fã do estilo, mas sempre que menciono bandas mais novas como Opeth, Gojira e outras, ele sempre fala “Ah esses metal novo não presta, os mais velhos são melhores” mas nunca se deu o tempo de escutar sequer uma música! Isso também ocorre com albuns novos de bandas já estabelecidas, como em Senjutsu de Iron Maiden, The Sick, The dying and the dead de Megadeth, Lux Æterna de Metallica e etc! As pessoas não percebem que sim, o metal está morrendo, e nós mesmos, metaleiros, somos os culpados.
O ruim desta matéria, é que ela acaba.
Problema de hoje, é que as produtoras e produtores fazem a música para o público exatamente o que eles querem. O senso crítico foi trocado há algum tempo, lá pela década de 90 em que as modinhas, os funks ( longe do funk real ), os pagodes, e os sertanejos sofrência apelam para o chiclete que dá gosto na boca para quem tem fome mas não tá com grana para esperar escolher um bom prato para degustar. Depois de algumas boas máscaras , o gosto vai embora.
O tempo é a grande obra que ainda.mostra os póstumos que vendem milhões ( Beatles, Elvis, etc ) …mas, em contrapartida a desculpa de que casa um viveu à sua época e cada época possui o seu melhor , não é verdadeira, qua do eu ponho o dial para o modo não pensar…
E da lhe Anita ..( para quem gosta )…
Ainda prefiro ouvir e ler as letras pode exemplo do Rush…
Ainda assim o preconceito é grande para conosco… Mas seguimos fiéis.
Eu curto muito folk e Indie, mas Rock está na artéria e no coração da minha alma.
O ser humano é um animal racional. Não só analítico, mas sintético também. Gostamos de estar juntos. Transmitimos o conhecimento à nossa espécie pelo ensinamento. Como racionais, cada um pode fazer diferença e não depender da manada. Assim se defende de ideologias que rebaixam o ser humano para atingir seus objetivos. A música é uma das expressões da nossa racionalidade.
Eu concordo parcialmente com o texto. De fato, precisamos ter pensamento crítico para que tenhamos o hábito de refletir sobre qualquer coisa que seja, antes de emitir uma opinião ou mesmo de se comportar de tal e qual maneira.
Sobre o rock / metal estarem condenados ao fim por falta de pensamento crítico, é o que me pega. Não sei se é por causa disso, na real. Os exemplos também acho que não tocam no que considero ser o problema.
Eu vejo uma dificuldade de renovação no estilo, e uma desconexão com as novas gerações. Não podemos esquecer, que a música, faz parte de uma indústria (cultural), e que faz mais de uma geração (25 anos) que o rock deixou de ser tão popular, e isso tem consequências nessa renovação. Essa não renovação é tão latente, que em qualquer show de fim de semana num bar qualquer da cidade, tem uma banda de amigos tocando sempre as mesmas músicas das mesmas bandas. Como há uma dificuldade grande de se viver de música, muitos músicos acabam tendo que viver de tocar músicas de outras bandas nos fins de semana _ fora do período de seus trabalhos regulares. Quando algumas bandas tentam fazer som autoral, quando não são pouco valorizados pelos locais, acabam tendo dificuldade de financiamento para aparecerem em nível regional / nacional. Lembrando que uma banda tem geralmente de 3 a 5 músicos, é esperado que com os cachês todos seus membros consigam um pagamento digno _ nem preciso dizer que bons instrumentos e equipamentos de som não são baratos.
Voltando a falar de mercado, os músicos que prosperam vão acabar disputando lugares nos corações e ouvidos das pessoas (pelo menos no Brail) com sertanejo, pagode, pop, funk e outros estilos, que tem empresas com muita grana por trás, que compram rádios (ou pagam os famosos ‘jabás’ para tocar nessas rádios) ou mesmo pagam por audições em plataformas digitais, para inflarem estes números artificialmente. A competição é pesada.
Bom, talvez alguns discordem, mas acredito que o marketing aqui faz sua função dentro do mercado: ele influencia as pessoas. Quanto mais investimento, mais pessoas vão acabar sendo apresentadas a estas músicas, e (aí vem o efeito de manada) vão acabar incorporando tais produtos ao seu dia a dia sem ao menos se darem conta disso.
Outra dificuldade para o rock / metal, é seu perfil de consumidor: Ele (pode ser um exagero meu) geralmente só gosta de rock / metal. Algumas fusões dentro do estilo são insuportáveis para muitos fãs. Seja uma banda que troque um pouco seu estilo ou sua sonoridade, seja um membro fundamental da banda saiu, conveniência de mercado, ou por amadurecimento dos músicos, geram reclamações de fãs. Um exemplo rápido que me veio, é de gente que acha que o Angra tem que acabar, só porque não gosta mais do que a banda se tornou.
E ainda apontaria que, enquanto outros estilos tem a capacidade de se fundirem e se transformarem, e produzir uma infinidade de artistas, o rock / metal dá sinais (faz tempo) de que sua renovação atingiu um certo teto. Algumas bandas novas (Ghost e Greta Van Fleet, por exemplo) vem adotando um estilo anos 70 e 80 repaginado, e agradado muita gente. Mas mesmo sendo bandas legais, de certa forma, exploram a nostalgia do público.
Claro, eu posso estar errado em tudo que falei, mas são coisas que tenho sentido quanto a chatice de quem diz “que o rock morreu” ou que decretam que ele vai morrer. Acho que o problema vai muito além de simplesmente não gostar do Blaze no Iron Maiden (e eu não gosto, é chato demais), ou de achar Metallica superestimado e Nirvana uma chatice. O rock perdeu mercado, e seu nicho é menor, e pode ficar cada dia menor, até seguir o caminho de seu ascendente, o blues.
A consciência crítica pode nos ajudar, a quem sabe, pensar numa alternativa para que o estilo se renove, e comece a encantar as novas gerações.
O texto me pareceu uma preleção. Os exemplos ilustram casos, mas faltou explorar os possíveis “comos” e “porquês” do efeito manada no rock e metal. No mainstream temos a mídia tradicional, mas historicamente, a mídia rock eram fanzines, revistas, programas de rádio e TV (raros). Nossas mídias sociais eram as cartas pelas quais trocávamos ideias e materiais.
Quem são os formadores de opinião do rock?
Quais as fontes de massificação de ideias nesse meio?
Se eu tiver uma unica opinião divergente da maioria, frente a uma única banda, já posso me considerar um livre pensador? Por exemplo, Manowar, pra mim, é sinônimo de histeria, seja pelo visual, seja pelas atitudes no palco, seja pelo som, salvando-se uma ou outra faixas interessantes e criativas. Mas não me importo que acdc tenha sido taxado como a banda que gravou um monte de vezes o mesmo disco, e continua sendo minha banda preferida, assim como o é para milhares de outras pessoas.
Bom ,,, nada a ver esse negócio de a manada deixar o rock, ou Heavy, blues ou Jazz acabar.. na verdade o que aconteceu é que Grandes Músicos, ícones da música , e de boa qualidade de música surgiu nas décadas de 60, 70, 80 e 90… Onde a música falava não só através de letra, dos vocais mas a harmonia trazia o enredo .. um bom músico transmite a mensagem mesmo sem vocais. Mesmo sem precisar falar… Isso difere bons Músicos de Mediucres…
O que está acabando é a Cultura das pessoas, a capacidade de ouvir,e não de apenas escutar.
O Bom gosto, a musicalidade que se encontra dentro de casa um, as emoções,,… Isso se está acabando
O Zé povinho gosta de bunda, e e isso o que interessa no momento, não prestam atenção no que se está sendo dito. Ou se prestam , o quanto mais vulgar e Mediucres for melhor..
O que eu sinto muito e que estamos perdendo nossos bons Músicos, porque estão ficando velhos e morrendo.. e não está nascendo ninguém para dar continuidade, ou não se fazem mais músicos que amam o que fazem mas músicos que querem vender.. ..
O bom e saber que se foi feito muita coisa boa que dá pra viver uma vida inteira ouvindo música de qualidade sem se corromper a Mediocridade que se apresenta nos dias de hoje.
Cristian….