Escolher um cantor substituto para uma banda nunca foi e nunca será uma tarefa fácil, pois envolve questões que vão muito além de contratos, assinatura de papelada, procedimentos administrativos e interesses financeiros e comerciais.
Além dos quesitos técnicos como afinação, timbre, versatilidade nas performances e dinâmica vocal, questões intangíveis como bom relacionamento interpessoal, carisma e generoso poder de interpretação também fazem parte do pacote e ganham papel de protagonismo para que uma banda possa despontar e ou se manter no mercado com seu novo frontman.
E para cada Brian Johnson (AC/DC), há um Blaze Bayley (Iron Maiden), ou seja, para cada caso de troca de vocalista bem-sucedida, existe o contraponto, onde as coisas não saíram necessariamente tão bem e a parceria entre banda e cantor azedou mais que um cambuci verde, cabendo o pobre bardo passar no RH para assinar a rescisão de contrato e pegar o caminho da roça.
Nas linhas abaixo, você poderá relembrar cinco substituições que deram errado e deixaram muita gente rangendo os dentes.
Blaze Bayley – Iron Maiden
Com a saída de Bruce Dickinson em meados da década de 1990, o Iron Maiden se viu numa enrascada braba, pois o Air-Raid Siren era muito mais do que a personificação de um vocalista de heavy metal completo. A sua postura intensa e vigorosa no palco trazia uma bem-vinda camada de interpretação aos clássicos do Iron, para dizer o mínimo.
Blaze Bayley é, sem dúvida, um grande cantor, entretanto, não conseguiu encaixar o seu perfil vocal ao som do Maiden. Com alcance vocal e o tom bem distantes do que fora (é) requisitado pelas canções da banda, Blaze durou apenas dois álbuns de estúdio: The X Factor (1995) e Virtual XI (1998) – além da coletânea Best of the Beast, lançada em 1996. Bruce retornou ao grupo e o resto é história!
Tim “Ripper” Owens – Judas Priest
De fã número um do Priest a vocalista substituto de Halford! Tal frase até poderia figurar na lápide de Owens, pois é teor de sua carreira musical e fora o evento que mudou, sem dúvida, sua vida por completo. Tal caminho profissional percorrido por Tim até serviu de pano de fundo para o filme Rock Star, lançado em 2001, pela Warner Bros.
Assim como Blaze, a estada de Ripper fora por apenas dois trabalhos de estúdio: Jugulator (1997) e Demolition (2001). Apesar de afirmar que saiu do Judas por vontade própria, a pressão – externa e interna – para que o Metal God retornasse ao seu posto de majestade era imensa, e fora o que aconteceu em 2003.
Anette Olzon – Nightwish
No final de 2005, a vocalista Tarja Turunen ganhou uma justa causa e teve que abandonar o Nightwish com uma mão na frente e outra atrás. O episódio fora uma das demissões mais sorrateiras e perversas do universo metal.
Para vaga de Tarja, o grupo escolheu a sueca Anette Olzon para dar continuidade à carreira. O perfil vocal de Olzon passava longe da seara operística conferida a Turunen. A dor de cabeça para os músicos do grupo foi instantânea, pois uma grande parcela do público não conseguiu engolir Anette.
A pressão que a moça recebia dos fãs e integrantes da banda fora demasiada, o que levou ao fim do acordo entre as partes. A parceria entre Nightwish e Anette Olzon rendeu apenas dois discos: Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011). Atualmente, a banda segue com a cantora holandesa, Floor Jansen.
John Corabi – Mötley Crüe
Em meados da década de 1990, o Crüe divulgou um comunicado dizendo que as prioridades na vida de Vince Neil não contemplavam o grupo, com isso as partes acharam melhor seguir caminhos diferentes. A banda seguiu carreira com John Corabi, no entanto o rapaz mal esquentou o banco e os executivos engravatados da Elektra ladraram alto e exigiram a volta de Neil, pois meses antes da saída de Vince investiram uma grana alta na banda, em outras palavras, o contrato polpudo só valeria com a formação original.
Além disso, Corabi não agradou os fãs e as apresentações do Mötley Crüe estavam com público bem reduzido e dando um bocado de prejuízo. John acabou amargando a demissão em 1997, deixando como espólio o álbum homônimo ao grupo, de 1994.
Ian Gillan – Black Sabbath
Muitas coisas não devem ser resolvidas sob o efeito de infinitos shots de bebida alcoólica, pois, invariavelmente, vai dar m****. Ian Gillan e Tony Iommi sentiram na própria pele a mão pesada deste princípio, já que decidiram firmar uma parceria alicerçada numa noite de bebedeira e naquele esquema de bêbado amigo: conversa ao pé do ouvido, com frases do tipo: “Cara, eu te considero pra c******, você é meu irmão”. Ou seja, nada de muito proveitoso e produtivo se tira dessas ocasiões.
É importante lembrar que o Black Sabbath tinha acertado a mão com os álbuns Heaven and Hell (1980) e Mob Rules (1981), mas o relacionamento entre Ronnie James Dio e Iommi ficou mais azedo que limão siciliano depois do lançamento do álbum ao vivo Live Evil, o que fora determinante para saída de Dio.
Com a vaga aberta, a parceria de Gillan e Black Sabbath se concretizou, mas durou apenas um álbum: Born Again (1983). O disco é bacana, mas fica patinando num limbo, onde é muito Deep Purple para ser considerado Sabbath, e muito Sabbath para ser considerado Deep Purple.
O trabalho gerou muita birra dos fãs, que foram abandonando o grupo a cada show da turnê, o que levou, dentre outros motivos, a saída de Gillan.