Falar sobre o Edu Falaschi sem falar do Angra é impossível, ainda mais quando inicia uma turnê celebrando os 20 anos de um dos maiores álbuns da história do power metal: Rebirth. Fica mais difícil ainda fugir do paralelo Angra x Edu, lembrando que poucas semanas atrás o próprio Angra passou pelo mesmo Bar Opinião com a tour do mesmo álbum. Na oportunidade, comentei sobre o Angra estar ressoando como um tributo deles mesmos, completamente preso em um passado já distante (O review pode ser lido aqui https://www.rockbizz.com.br/angra-tour-dos-20-anos-do-classico-rebirth-chega-
a-porto-alegre/).
Para Edu, essa tour é uma chance de se reinventar. Após lançar o ótimo álbum Vera Cruz, essa turnê vem justamente apresentá-lo na íntegra, além do aclamado Rebirth. Acompanhado do incrível baterista Aquiles Priester e do tecladista Fábio Laguna (ambos ex-Angra), é como ver a outra metade do grupo que se separou na década de 2010. O grupo ainda conta com Diogo Mafra (guitarra), Roberto Barros (guitarra) e Raphael Dafras (baixo).
Mais uma vez, Porto Alegre esgotou os ingressos do Bar Opinião para conferir a apresentação, voltar a uma nostálgica viagem até o início dos anos 2000 e descobrir se ainda temos o que esperar do vocalista.
Se comecei o texto falando sobre a comparação Angra x Edu citando o show recente do grupo em Porto Alegre, as comparações podem acabar por aí. O que o vocalista e sua banda fizeram na noite de ontem, dia 7 de agosto, é simplesmente incomparável. A produção, o palco, a entrega, a vontade, a seriedade, o comprometimento e a relação com os fãs foram infinitamente superiores. Além disso, Edu não se prendeu apenas ao passado e ousou apresentar o seu trabalho mais recente, Vera Cruz, também na íntegra, plantando entre os fãs o gosto do futuro que o artista está trilhando.
O setlist todo mundo já sabia, o roteiro era mais ou menos esperado por todos. Primeiro todo o Rebirth, na sequência Vera Cruz e, talvez, alguma surpresa na noite. O que não se sabia é como seria a aceitação da plateia e como seria a entrega da banda no palco.
Um leve atraso foi deixando os fãs incomodados. Foram 35 minutos que gerou alguns burburinhos entre os presentes. Logo se viu que existia um público que já deixou a adolescência de lado e estava lá pelas lembranças de 20 anos acompanhando Edu. Mas isso tudo terminou quando o telão foi recolhido e In Excelsis começou a soar na casa.
Um a um, os músicos subiram ao palco e começaram um dos maiores clássicos do grupo: Nova Era. Logo no início se via a entrega dos fãs em acompanhar a banda. Punhos erguidos, vozes altas e todos acompanhando cada sílaba da música. O mesmo acontece com a sequência Milleniun Sun e Acid Rain.
Quando se juntou ao Angra lá no início dos anos 2000, Edu não levou apenas a voz, mas também sua habilidade como compositor. Em Rebirth, ele tem quatro composições, entre elas a citada Nova Era (junto de Kiko Loureiro), e duas próprias. Uma delas é Heroes of Sand. A balada manteve todo o Bar Opinião em êxtase com a apresentação. A épica Unholy Wars com sua batucada e virtuose soou muito bem, dando espaço para a balada mais famosa da banda, Rebirth.
Edu fala com os gaúchos, diz ter trazido especialmente para esse show a jaqueta de couro que usou na gravação do DVD de Rebirth, 20 anos atrás, mas que estava ficando quente para se manter com ela. Judgement Day que vem na sequência é daquelas que raramente a banda tocou ao vivo e, mais uma vez, ovação geral do público.
Aproveitando para apresentar a banda, o vocalista rasga elogios a seus companheiros, chama Raphael Dafras de o melhor baixista de metal do mundo. Roberto Barros, um dos melhores guitarristas de power metal da atualidade. Diogo Mafra de o homem mais bonito do grupo. As vozes de Raissa Ramos e Fábio Caldeira também recebem o destaque e a ovação do público. Para a “velha guarda”, Fábio Laguna recebeu o carinho de todos, e o gaúcho Aquiles Priester ganhou o título de “melhor baterista de metal do mundo”. Running Alone e Visions Prelude encerram o show deixando o público implorando por mais.
Vem então a hora de Vera Cruz. Como o público reagiria a um álbum inteiro da carreira solo? Logo em The Ancestry deu para ver que muito bem. Destaque para a balada Skies In Your Eyes e a longa e bela Land Ahoy. Em Face of the Storm, Edu chamou um fã local que venceu um concurso para fazer as vozes de Max Cavalera no show. Mirror of Delusion foi outra que fez a maioria dos fãs cantarem junto. O encerramento com Rainha do Luar (que tem Elba Ramalho como convidada no álbum), agradou mais uma vez.
Antes de encerrar veio ainda Spread Your Fire, outro clássico do Angra. A banda se despede de todos logo em seguida, mas sem antes fazer a foto do grupo com a plateia de fundo.
Impossível não voltar a dar destaque para a produção que a banda teve nesse tour. Um templário de 5 metros de altura no lado de fora do bar convidava os fãs, o palco repleto de itens referentes a Vera Cruz, as luzes de palco, tudo, absolutamente tudo foi pensando nos mínimos detalhes para dar o máximo de entrega para quem esteve no show.
Não sei se esse texto vai chegar em Edu Falaschi, mas se chegar, vou falar como o fã que o acompanha nesses 20 anos. Edu, você é foda! A história que construiu, tudo que teve que superar e, mais uma vez, voltar a presentear os fãs com seu talento é imensamente admirável. Neste 7 de agosto eu queria te dar um abraço. Um abraço para dizer obrigado, mas também um abraço para dizer: Vai em frente, segue tua carreira que ainda tem muito a nos entregar.
Vera Cruz é tão bom que se fosse lançado em 2006, após Temple Of Shadows, seria uma das maiores trincas que uma banda de metal já teria produzido. Sei que a dimensão do álbum fica menor por não ter o selo da banda, mas qualidade de composição e de gravação não devem em absolutamente nada aos dois álbuns de estreia da banda contigo. Continua assim, produzindo materiais com esse nível de entrega que teu futuro vai ser ainda mais brilhante. Obrigado. Mais uma vez, obrigado.