Trinta meses! Porto Alegre esperou 2 anos e meio para voltar a receber um grande show internacional de rock na cidade. Se em 2019 o Iron Maiden visitava a cidade pela terceira vez; o ano de 2020 seria a primeira vez do KISS. A sua End of the Road Tour, no entanto, teve que ser adiada por conta da pandemia, com isso, uma longa espera se firmou até a confirmação de que a tour iria acontecer e com passagem na capital gaúcha.
É impossível começar essa matéria sem ser de forma nostálgica. O KISS me foi apresentado quando tinha oito anos de idade. KISS Alive III chegou em minhas mãos com o Live, do AC/DC, e foram os meus primeiros contatos com o que seria a trilha sonora do resto da minha vida. Daquele longínquo ano de 1994 para cá, o rock e o metal estiveram sempre presentes no meu dia a dia e a ida aos shows foi uma constante nos últimos 20 anos. Foram mais de 300 shows assistidos na minha vida, quase todos os grandes nomes da música pesada que desembarcaram no Brasil passaram em frente aos meus olhos, mas sempre existe a oportunidade de algo inédito.
Antes da grande estrela da noite, a banda gaúcha Hit The Noise teve o papel de aquecer o público. Com riffs fortes e um vocal afiado, o grupo apresentou músicas de seu material já disponíveis nos Apps de streaming e lançou uma faixa nova. O grupo foi uma grata surpresa e cumpriu com excelência seu papel.
Quando os PAs começaram a tocar Rock N´ Roll, do Led Zeppelin, os fãs já sabiam: era a hora do KISS. Ao fim da música, a clássica introdução: “Se você quer o melhor, você tem o melhor. A banda mais quente do mundo, KISS”. O pano que cobria o palco cai e o grupo aparece em plataformas elevadas com um dos grandes hinos do grupo: Detroit Rock City. A sequência vem com o hit Shot It Out Loud para delírio dos presentes que começaram cedo a gastar as cordas vocais.
A internet nos da todos os spoilers possíveis de uma tour. Três dias antes, o show em Buenos Aires, na Argentina, foi transmitido pela TV e estava na íntegra disponível para todos, ou seja, era o aquecimento mais certeiro possível, mas é impossível transmitir a emoção de vivenciar um grande show. Se a banda está ensaiada e com movimentos calculados, é também preocupação do grupo em entregar o melhor possível a todos que lá estão. Se as grandes músicas são peças ensaiadas, porque uma das maiores bandas do mundo não poderia fazer o mesmo?
Tudo estava lá: Uma sequência de hits com Deuce, War Machine, Heavens on Fire, I Love It Loud, Say Yeah, Cold Gin, com tudo o que tem direito como Gene Simmons cuspindo sangue, movimentos sincronizados, fogos, pirotecnias e efeitos visuais. Tudo o que um fã quisesse presenciar, a banda entregou em cheio.
É importante destacar também a infraestrutura da Arena do Grêmio, palco dos últimos grandes apresentações realizadas na cidade, que comportou uma capacidade sonora impecável e uma iluminação de primeira classe, além disso, trouxe conforto a todos os espectadores, o que é uma grande diferencial em shows de grande porte.
Toda essa combinação só podia resultar em uma coisa: Um público satisfeito e com alto astral durante toda a apresentação. Se o palco parecia suficiente, o vocalista e guitarrista Paul Stanley mostrou que não. Pendurado em uma tirolesa, o músico passou por cima do público até um mini palco montado no meio do estádio, onde entoou um dos grandes sucessos do grupo: I Was Made For Loving You Baby, levando os fãs ao delírio mais uma vez, que revezavam os olhares entre o palco principal com Gene Simmons, Tommy Thayer e Eric Singer e o palco secundário com Paul.
Depois disso, o grupo todo se reúne novamente para a etapa final da apresentação, com isso, veio Black Diamond e na sequência o baterista Eric Singer vai ao piano para uma emocionante apresentação de Beth. Depois da breve pausa, a banda volta ao palco com a clássica Do You Love Me?, que fora o aquecimento para Rock And Roll All Nite, o maior clássico do KISS e uma das maiores composições do rock. Se depois de duas horas o público poderia estar cansado, presenciar essa faixa ao vivo devolvia energia a todos para que pudessem cantar, dançar e viver esse momento único.
O KISS se despede definitivamente de Porto Alegre, mas a sua marca ficou mais uma vez registrada na história da capital gaúcha, que acumula noites inesquecíveis ao lado de grande nomes do rock e metal. KISS, obrigado por essa noite, por tantas outras e por um dia ter me transformado num apaixonado pelo rock n’ roll.