No começo do século 21, o Kreator passava pelo que foi nada menos nem nada menos que um sísmico renascimento criativo. A essa altura, a icônica banda alemã havia lançado nove álbuns de estúdio nas décadas de 1980 e 1990, o que os estabeleceu como um dos maiores e mais importantes nomes do thrash metal e do metal em geral nessas décadas. Na primeira década, eles ajudaram a moldar e abrir o caminho na cena thrash alemão através de lançamentos como Pleasure To Kill (1986), Terrible Certainty (1987) e Extreme Aggression (1989). Durante a década seguinte, a banda abriu excitantes horizontes de experimentação em álbuns como Coma Of Souls (1990), Renewal (1992) e Endorama (1999).
Porém, era hora de entrar em uma nova era como o vocalista e guitarrista Mille Petrozza explica muito bem: “Durante a década de 1990, definitivamente estávamos experimentando o que a banda poderia fazer. Mas (o baterista) Ventor e eu decidimos que para este álbum, o nosso primeiro do novo milênio, queríamos voltar ao tipo de som que fazíamos no início do Kreator. Em outras palavras, voltar ao motivo pelo qual começamos a banda em primeiro lugar”.
Houve algumas mudanças significativas para o lançamento deste álbum, sendo uma delas o novo contrato com a SPV/Steamhammer. “A Drakkar, que tinha lançado o último álbum (Endorama) não existia mais. Então, o que procurávamos era uma gravadora que entendesse como lidar e comercializar o metal. Havia várias empresas interessadas, mas parecia-nos que a SPV/Steamhammer seria a que nos daria mais suporte e, portanto, seria a que melhor trabalharia conosco. Então, fomos lá e acabou sendo a melhor escolha”.
Também houve uma mudança na formação: a entrada do guitarrista Sami Yli-Sirniö, substituindo Tommy Vetterli, que tinha entrado na banda em 1996 e tocado nos álbuns Oucast (1997) e Endorama.
Embora finlandês, Yli-Sirniö morava na Alemanha há algum tempo antes de ter a oportunidade de se juntar ao Kreator. “Na verdade, ele tinha acabado de voltar para a Finlândia quando eu pedi a ele para substituir Tommy de forma permanente.”
Como sempre, Petrozza fora o único compositor de todo o álbum. “Eu me inspirei para as letras em alguns livros. Mas o tema de muitas das músicas foi algo que me guiou durante um longo tempo. Eu quis dizer às pessoas que elas não devem ser enganadas pelo que as autoridades e governos querem que você acredite. Sim, havia alguns assuntos pessoais lá também, mas muito do que eu faço é baseado na ideia de fazer com que todos percebam que estão sendo manipulados e controlados por outros.
Essas pessoas querem que você pense de uma maneira particular, então você não se resiste. Dessa forma, a sociedade é mantida sob controle e qualquer ameaça à autoridade é sufocada. O lado musical também sobrou para mim de novo. Sempre foi assim com a banda. Como vocalista, eu realmente só posso cantar minhas melodias. Eu simplesmente não posso fazer isso com os riffs de outra pessoa. Mas ainda somos um time. Quando se trata de arranjos, estes são trabalhados em equipe. Esta é uma parte importante da forma como trabalhamos”.
O produtor deste álbum foi Andy Sneap, que nessa época estava se tornando um dos proeminentes mestres desta arte no mundo do metal moderno, sendo um dos mais solicitados até hoje.
“Eu conhecia e gostava de Andy desde os dias em que ele era o guitarrista do Sabbat, já que eles tinham assinado com a Noise Records e o Kreator estava nessa gravadora. Ele foi a nossa primeira escolha para trabalhar neste novo projeto. Gostei do que ele fez no álbum The Gathering, do Testament, lançado em 1999. Ele deu a eles um som que nunca tiveram antes e era isso o que realmente estávamos procurando. Era natural e orgânico e também muito moderno. Me lembro de ligar para o seu Backstage Studios, na Inglaterra, e Warrel Dane, vocalista do Nevermore, atender. Andy estava produzindo o novo álbum do grupo, na época – Dead Heart In A Dead World, de 2000). Quando soube disso, fiquei novamente muito impressionado. Então, adorei quando ele concordou em produzir o novo álbum do Kreator”.
A pré-produção foi feita nos KKS Studios, em Essen, antes da banda ir para os Area 51 Studios, em Celle, perto de Hamburgo, onde gravaram a bateria e o baixo sob os cuidados de Christian Giesler.
“Gostei do som que ele conseguiu para a bateria e o baixo naquele estúdio que era de propriedade de Tommy Newton, profissional que já havia trabalhado com o Helloween. Então, passamos uma semana lá fazendo essa parte do processo. Depois, Andy e eu fomos para o Backstage para fazer as partes de guitarra e vocal. Éramos apenas nós dois, Sami chegou mais tarde para fazer as partes da guitarra rítmica mas, como Christian e Ventor tinham finalizado o que tinham que fazer, não havia necessidade de eles virem para a Inglaterra. Acho que levamos cinco semanas para terminar todo o trabalho de gravação no Backstage. E logo em seguida, Andy mixou o álbum sozinho. Devo dizer que foi um processo muito tranquilo. Andy foi excelente para trabalhar e conseguiu exatamente o que queríamos”.
O título do álbum foi inspirado por algo que Petrozza tinha lido. “Em um livro me deparei com uma frase que John F. Kennedy disse em 1962. Esta era: ‘Aqueles que tornam a revolução pacífica impossível, tornarão a revolução violenta inevitável’. Achei que Violent Revolution [Revolução Violenta, em tradução livre] daria então um bom título para o álbum. Então, eu mantive isso em minha cabeça para este álbum. Acho que Violent Revolution é um título que causa um impacto real”.
Para a arte de capa veio também uma outra escolha perfeita: o Kreator recorreu a Andreas Marschall, que tinha feito um trabalho muito impressionante na capa do álbum Coma Of Souls, de 1990.
“Sabíamos que Andreas era um artista muito talentoso e que entendia a banda. E desta vez, não queríamos mais experimentar – não gostei da arte de Endorama – e, sim, trabalhar com alguém em quem pudéssemos confiar. Andreas certamente se encaixava nisso. Ele e eu trocamos ideias de como a capa deveria ser, mas tenho que admitir que a primeira versão que ele apresentou não ficou boa. Tinha o demônio do Kreator parecendo um revolucionário, com uma bandana na cabeça e carregando uma metralhadora. Eu apenas não queria ter imagens de guerra ou armas na arte. Então, Andreas voltou e veio com algo muito melhor. O demônio agora tinha uma pele que parecia uma máscara e havia símbolos misteriosos esculpidos naquela máscara. Também gosto do fato de ele ter usado a cor vermelha no fundo da pintura. Capturou perfeitamente o sentimento de agressividade e toda a vibe que tínhamos no álbum”.
Um aspecto interessante do track list é que a instrumental The Patriarch, que dura apenas 52 segundos, vem depois da faixa que abre o álbum, Reconquering The Throne. Os fãs poderiam esperar que ela tivesse aberto o álbum, mas, para Petrozza, havia uma razão lógica para que isso não acontecesse. “Nós realmente queríamos começar com uma faixa thrash, para mostrar a todos o que estávamos apresentando musicalmente. Depois de Endorama, era importante que todos reconhecessem que esta era uma nova era para o Kreator”.
Violent Revolution foi lançado em setembro de 2001 e tornou-se o álbum de maior sucesso da banda na Alemanha, chegando à posição 38. “Sabíamos que tínhamos um bom álbum nas mãos, então não foi uma surpresa ver esses resultados nas paradas. Mas por melhor que você ache seu álbum, você nunca tem certeza de como as pessoas vão reagir ao que você fez, se você vai conseguir conquistar novos fãs, bem como satisfazer os antigos. Então, suponho que ficamos agradavelmente um pouco surpresos quando chegamos ao Top 40 pela primeira vez. Porém, eu tenho que dar muito crédito à nossa gravadora. Eles souberam exatamente como comercializar e promover o álbum e mostraram que fizemos a escolha certa ao assinar com eles”.
Violent Revolution é sem dúvida um excelente álbum e embora, de certa forma, ele remete às glórias dos primórdios da banda, não soa nada nostálgico. As performances e a produção são tão coesas e elaboradas que juntas são um tipo de base para o thrash metal praticado após o começo do novo século e as composições são contemporâneas e dos mais altos valores. Enfrentando o desafio oferecido por uma nova e ambiciosa geração de bandas de metal, o Kreator provou que está longe de ser uma força gasta ou ultrapassada. Ao contrário de muitos de seus colegas aqui está uma banda que ainda tinha muita criatividade e que estava claramente muito animada com o que estava fazendo. E quando você ouve a própria banda curtindo todo o processo, então você sabe que é uma verdadeira revitalização.
“Eu sinto que este é um dos nossos álbuns mais poderosos”, diz Petrozza com convicção. “Nõs pegamos o que tínhamos feito em Coma Of Souls e Extreme Aggression mas sem copiá-los. Não, nós adicionamos elementos modernos ao som também. Era uma nova era para o Kreator. Um renascimento, se quiser colocar dessa forma. E o início do que eu chamaria de nossa segunda carreira”.
Aqui houve uma ‘revolução’ que inspirou a ‘evolução’ do grupo, pois eles foram recebidos com corações, mentes e braços abertos na elite do metal do século XXI. Pioneiros do thrash na década de 1980. Pioneiros da experimentação na década de 1990. E agora, pioneiros dos sons modernos nos anos 2000.
Em 2021, estes deuses alemães anunciaram um relançamento muito especial de Violent Revolution para comemorar o seu 20º aniversário.
Esta reedição, lançada no Brasil pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast, inclui uma enorme seleção de diversas gravações ao vivo, agrupadas sob o nome Bootleg Revolution, feitas em países como Brasil, Coreia do Sul e Alemanha.
Para ter um gostinho deste material ao vivo, assista ao vídeo de Servant In Heaven – King In Hell (Live In Brazil):
Adquira sua cópia em versão dupla digipack em: https://bit.ly/kreator-vio-rev-duplo.
Fonte: Shinigami Records