Muito se fala sobre a fase mais recente da carreira do Iron Maiden, a partir do “retorno” em 2000, com discos que dividem opiniões entre os fãs saudosistas, ao passo que se tornam os favoritos de tantos outros. Dessa forma, a cada novo disco, afloram as famigeradas comparações e os polêmicos rankings, e o lançamento recente de Senjutsu (2021) cria a oportunidade perfeita de se fazer uma breve análise desse histórico recente da instituição britânica.
A cada palavra desta resenha, entretanto, é preciso lembrar que se trata de uma banda extremamente diferenciada, onde todos os álbuns seguem um padrão altíssimo de qualidade independente de preferências pessoais, e a nostalgia não pode servir de desculpa para a ignorância. Então, sem mais delongas, seguem os álbuns pós-2000 do Iron Maiden em ordem cronológica e, ao final, classificados do melhor ao pior.
BRAVE NEW WORLD (2000)
Se esse álbum possuir algum detrator, pode ter certeza de que é apenas por uma nostalgia sem causa, pois Brave New World é um clássico que muda vidas, simplesmente no mesmo nível de qualquer outro dos anos 1980. Apresenta algumas músicas mais longas do que nas fases anteriores, mas é Iron Maiden puro e renovado e em seu melhor, além disso, possui uma das melhores artes de capa da história da banda. Não há mais o que dizer.
DANCE OF DEATH (2003)
Pode ser definido como um álbum mediano com maravilhosos destaques. A presença de ‘fillers’ esquecíveis é compensada por músicas do calibre de Paschendale, Rainmaker e a faixa-título, que figuram entre as melhores da banda e garantem uma nota final bem alta para o álbum.
O estilo geral da sonoridade ainda segue Brave New World e as músicas mais longas ganham destaque, incluindo a inovação da acústica Journeyman. Infelizmente, o maior preconceito aqui se dá pela capa, provavelmente a pior da história da banda, que, todavia, teria sido boa somente com o mascote Eddie, sem o show de horror das figuras 3D mal renderizadas.
A MATTER OF LIFE AND DEATH (2006)
Praticamente ignorado no Brasil por muito tempo, foi simplesmente eleito o melhor disco de heavy metal dos anos 2000 na Suécia, país que, convenhamos, entende muito do assunto. Isso é apenas um exemplo de como o álbum é controverso e merece o caráter de “ame ou odeie”, o que se explica pelo ângulo que o ouvinte escolha analisar: ao contrário do disco anterior, quase todas as músicas são excelentes, porém é um registro feito para ser direto e curto, cujas faixas parecem ter sido aumentadas artificialmente e sem razão.
É como se alguém, no último minuto, tivesse chegado ao estúdio e resolvido acrescentar mais 3 minutos de solos e repetições de refrão em cada música. No entanto, ainda merece uma nota estelar, mas, sendo possivelmente o disco mais pesado da história da banda, com melodias fantásticas, instrumental retumbante e um Bruce Dickinson comendo com farofa, o famoso AMOLAD poderia competir com os anos 1980 e figurar entre os melhores da carreira, não fosse esse curioso e inexplicável “problema”. Para não esquecer a arte de capa, também houve controvérsia e dualidade: muito bonita, mas o Eddie não tem destaque como Eddie, parece mais uma caveira qualquer.
THE FINAL FRONTIER (2010)
Aqui temos o mais próximo que a banda chegou de “pisar na bola”. Pode-se dizer que o álbum apresenta um direcionamento em busca de novas sonoridades, que não se assemelham muito a AMOLAD, tampouco a Brave New World e Dance of Death. Porém, a vontade de mudar acabou gerando um álbum que exagera nas experimentações desvairadas, desliza nas melodias e não traz tantas faixas de grande destaque quanto os anteriores, apesar de When the Wild Wind Blows, por exemplo, ser uma linda canção.
A arte de capa também escorrega ao seguir um conceito espacial mais infantilizado, enquanto a tendência para músicas longas já está enraizada, mas com a banda ainda aprendendo a explorar sua progressividade. Tudo indicava que seria o último disco da carreira, a última fronteira, que, infelizmente, não estava à altura de encerrar a história do Iron Maiden.
THE BOOK OF SOULS (2015)
Após atingir a última fronteira, Eddie retorna no livro das almas, com uma arte de capa que traz o mascote mais bem feito dos últimos anos, em destaque sobre um básico fundo preto. Além do conceito, a conversa sobre aposentadoria fica mais forte porque o álbum realmente parece um postlúdio, que revisita todas as fases da carreira e toma emprestadas as mais variadas auto influências para compilar um disco ao estilo: senhoras e senhores, esse foi o Iron Maiden.
Entretanto, que não se ache ruim, pois a fórmula funciona e a banda acerta ao encaixar tudo isso nas estruturas progressivas que vinham crescendo aos poucos, o que resulta em seu primeiro disco de estúdio duplo. Ainda sobra espaço para misturar novidades no balaio, como a ‘semi-balada’ Tears of a Clown, e principalmente a magistral odisseia orquestrada Empire of the Clouds, simplesmente uma das melhores músicas da banda e uma peça histórica de música, que encerra o disco de forma espetacular e eleva sua nota às alturas, apesar de algumas faixas pouco interessantes.
SENJUTSU (2021)
Chutando o papo de aposentadoria para bem longe, a banda entrega um álbum denso que não se prende a seguir os anteriores e nem compilar o passado novamente, pelo contrário, surpreendentemente apresenta o material mais diversificado de sua carreira, a essa altura do campeonato.
O disco traz algumas das melhores melodias metálicas de explodir o peito desde Brave New World, ao mesmo tempo em que as influências progressivas atingem sua maior maturação até aqui, após um crescimento forçado em AMOLAD, escorregadio em The Final Frontier e consolidado em The Book of Souls.
O sentimento que sobressai é uma emoção viajante, enquanto a arte de capa traz um formidável Eddie samurai com um fundo quase tão simples quanto no disco anterior, o que poderia ser mais trabalhado. Apesar de não ser imune a críticas, Senjutsu é admirável e impactante, levando a um incrível terceiro auge na carreira da banda, após os anos 1980 e o começo dos 2000. Caso venha a ser o último disco de sua história, está à altura do nome Iron Maiden, e o encerramento com Hell on Earth terá sido magnífico.
Ranking (do melhor para o pior):
1 – Brave New World
2 – Senjutsu
3 – A Matter of Life and Death
4 – The Book of Souls
5 – Dance of Death
6 – The Final Frontier