Senjutsu é o nome do trabalho responsável por quebrar o jejum de seis anos do Iron Maiden sem um álbum de inéditas. Com mais de quarenta anos de estrada e bagagem musical, é bom ouvir e, claro, constatar que o grupo ainda encontra formas de expandir sua paleta sonora, acertando a mão em muitos momentos, sendo assim, justificando o título de ser uma das maiores bandas na seara do som pesado.
O mais entusiasta ouvinte de pronto classificaria o disco como um maná dos deuses sob horizonte do Olímpio, no entanto, e de forma paradoxal, os momentos de brilhantismo de Senjutsu, que são muitos, diga-se, são inversamente proporcionais às passagens que cismam em deixar a audição morosa e, vez ou outra, até fatigante.
O álbum debuta com a cadenciada e quase tribal faixa-título, indo de encontro ao já manjado receituário do heavy metal: ‘open track’ veloz, solos diretos e virtuosos e refrão idealizado para que milhares de fãs o entoam a plenos pulmões nas apresentações ao vivo. Tais fatos salvaguardam os predicados de Senjutsu, além disso, atestam que o grupo ainda encontra formas de expandir as suas fronteiras.
O código genético do Iron Maiden dá as caras em Stratego, com ritmo acelerado e a indefectível galopada de Steve Harris & Cia. O vocalista Bruce Dickinson também mostra os seus ilimitados atributos vocais, encaixando de forma cirúrgica as suas linhas vocais nos versos, ponte e refrão da canção. A alquimia musical do Maiden continua com The Writing On The Wall, onde elementos do folk e blues se entrelaçam e formam uma única entidade musical com vida própria capaz de fazer até o mais apático ser vivo vibrar em profusão.
Days Of Future Past usa, sabiamente, a dinâmica como trunfo, o que a faz romper o cárcere da mesmice, tendo como cúmplices: ora a velocidade e ora o ritmo com um quê compassado. Já Darkest Hour é lenta e contemplativa, no entanto, seria um crime inafiançável imprimir o rótulo de balada à canção, já que as melodias soturnas e gélidas lhe atribuem um bem-vindo teor inquietante e agoniante pairando no ar.
O cavalo de troia de Senjutsu repousa nas canções idealizadas pelo líder do grupo, o já mencionado baixista Steve Harris, onde o flerte com o rock progressivo ora interessante e agradável aos ouvidos, hoje em dia tem se tornado megalomaníaco e deveras enfadonho.
Canções como Death Of The Celts, The Parchment e Hell On Earth seguem uma equação proposta por Steve há alguns anos, na qual longas e lentas introduções, por exemplo, soam supérfluas, presunçosas e redundantes, já que as canções com tal estrutura se assemelham em demasia umas com as outras, o que deixa a audição monótona, repetitiva e cansativa.
O Iron Maiden parece carecer de um produtor à la Martin Birch (Black Sabbath, Rainbow, Iron Maiden), profissional taxado muitas vezes pelas bandas/músicos como um carrasco, já que uma de suas especialidades era tirar os artistas de suas zonas de conforto. É um processo árduo, espinhoso e complexo, claro, ninguém gosta de ser confrontado e colocado numa posição desconfortável, mas se feito de forma criteriosa, equilibrada e competente, o resultado tende à glória, os álbuns do próprio Iron Maiden lá da longínqua década de 1980 atestam a eficácia do método. Ah, o mesmo preceito vale para a capa de Senjutsu – para os mais recentes álbuns da banda, também, diga-se de passagem – que demanda de um pouquinho mais de esmero e dedicação.
Como dito anteriormente, Senjutsu não é um álbum ruim. Longe disso! É um disco agradável, com momentos de puro brilhantismo e excelência, entretanto, tal como Ícaro, famoso personagem da mitologia grega, o disco peca por ter grilhões, o que o impede de ganhar os céus.
Track listing de Senjutsu:
1. Senjutsu (Smith/Harris) 8:20
2. Stratego (Gers/Harris) 4:59
3. The Writing On The Wall (Smith/Dickinson) 6:13
4. Lost In A Lost World (Harris) 9:31
5. Days Of Future Past (Smith/Dickinson) 4:03
6. The Time Machine (Gers/Harris) 7:09
7. Darkest Hour (Smith/Dickinson) 7:20
8. Death Of The Celts (Harris) 10:20
9. The Parchment (Harris) 12:39
10. Hell On Earth (Harris) 11:19
Nota: 7