O lançamento de um novo álbum é a entrega da criatividade e dedicação dos músicos ao público – e foi exatamente neste momento que o Sepultura foi forçado a ficar longe dos palcos: a banda havia recém-lançado o disco Quadra quando a pandemia do novo coronavírus foi deflagrada, obrigando o grupo a zerar sua agenda, que já listava turnês pelos Estados Unidos e pela Europa.
Frente a esse cenário, o quarteto estreitou a conexão com os fãs por meio do evento semanal SepulQuarta, em que os músicos recebiam amigos e conhecidos para bate-papos, contação de histórias e jam sessions. Agora, o projeto dá nome ao novo álbum do Sepultura, já disponível nas plataformas de streaming (ouça mais abaixo) e em versões físicas, tanto em CD quanto em disco de vinil. Um registro audiovisual da session de Slave New World, com participação de Matt Heafy, vocalista e guitarrista da banda de heavy metal Trivium, acompanha a chegada da obra pode ser visto abaixo.
A coletividade guiou o processo de criação da banda: junto dos músicos convidados, que em sua maioria já haviam dividido palco com o Sepultura, os integrantes decidiram qual faixa seria gravada no decorrer das lives. “Nós quisemos chamar pessoas com as quais já tivéssemos conexões, com quem fizemos turnê ou artistas que admiramos”, conta Derrick Green, vocalista do grupo ao lado de Andreas Kisser (guitarra), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Xisto (baixo). Para o vocalista, a escolha de Matt Heafy para Slave New World “foi até meio óbvia” neste sentido, visto que a Trivium tem uma versão própria da faixa. “O disco foi se criando, não foi planejado. E criar dentro dessa dinâmica é uma coisa muito nova pra gente”, explica Andreas, principal responsável por organizar os conceitos a serem explorados pela banda. SepulQuarta fez a banda gravar “sem pensar demais, focando na performance e no momento”, comenta o guitarrista.
Das 28 músicas apresentadas na série de vídeos, 15 foram selecionadas para o novo álbum. A tracklist passa por faixas menos frequentes nos setlists dos shows do Sepultura, como Apes Of God, Hatred Aside e Slaves Of Pain, mas também pelas composições mais frequentes, como Ratamahatta, Sepulnation e Kaiowas.
A criação do encontro semanal permitiu ainda que o quarteto pudesse jogar luz em diferentes assuntos importantes da atualidade, como a banda já fez em outras oportunidades – a exemplo do clássico disco Roots (1996), no qual a música indígena é a maior referência. Temas como a questão ambiental e a depressão foram abordados em papos com jornalistas e outros especialistas. Além disso, por meio de parcerias com ONGs, a cada semana o Sepultura ajudou na arrecadação de verba para causas distintas. “Foi um trabalho fantástico, a gente cresceu não só como músicos, mas como pessoas”, destaca Andreas.
Com o disco no mundo, o Sepultura se prepara para retornar aos palcos na retomada da agenda de shows interrompida pela pandemia. A primeira cidade a receber a apresentação que compila toda a energia acumulada pelo grupo neste tempo sem apresentações é Copenhague, capital da Dinamarca, no dia 04 de novembro.