É sabido que as artes são divididas em uma escala que vai da primeira a décima primeira e cada qual possui atribuições, onde estão contidas as respectivas características aplicáveis a cada uma das expressões artísticas.
E não é segredo algum que muitas dessas expressões artísticas flertam em território vizinho, pegando para si influências para compor assim a palheta das características que compõem uma determinada obra.
O mundo da música talvez seja um dos mais abertos a tais influências, haja vista o namorico com a literatura, cinema e dança. Mas o que isso tem a ver com a resenha do álbum “Unpuzzle”, da banda MaestricK? Absolutamente tudo! Numa alquimia rara, a banda flertou sem parcimônia com as mais distintas expressões artísticas que vão do recurso visual, passando pela representação teatral que muito se lembra aos apelos usados pelos mestres circenses, cooperando nessa interessante equação há espaço para poesia, fotografia e pintura.
O trabalho dos caras é tão bacana que o ouvinte começa a degustá-lo visualmente, visto o capricho que tiveram na feitura da capa e encarte, onde a embalagem ‘digipack’ só agregou ao saldo mais que positivo na obra desses paulistas.
Unpuzzle é um álbum conceitual que trata a desconstrução em um realismo fantástico, onde somos os únicos responsáveis pelo papel que queremos atuar em nossas vidas, seja ele bom ou ruim.
Parece um tanto quanto complexo, mas trata de uma das mais simples afirmações: podemos e temos o poder de determinar o curso de nossas vidas.
Com esse conceito a banda construiu uma das mais audaciosas obras do rock brasileiro, onde, sem sombra de dúvidas, tem todos os predicados para passar com louvor pelo implacável teste do tempo.
O trabalho de nomear essa ou aquela canção como destaque é difícil, visto a alto padrão de qualidade das canções, mas se fosse obrigado apontar destaques é inegável que a pesada H.U.C. ganhará espaço cativo no cd player de qualquer headbanger que preze pelos já citados predicados; a canção “Pescador” é regida por ritmos brasileiros e é toda cantada em português, o que prova que banda está a todo momento colocando o pé fora da zona de conforto e provando que nossa língua é um ás no concorrido mercado musical.
“Treasures of the World” é magnificência da banda em retratar sua complexa obra em linhas simples, sendo, sim, o reflexo do conceito do álbum representado em uma única canção.
“Yellow of the Embrium” é feliz na alquimia entre o blues e ritmos brasileiros e para finalizar o álbum a suíte “Lake of Emotions” que chega passar os incríveis vinte minutos de duração, o que nos lembra a fase áurea do rock progressivo e suas obras seminais.
Unpuzzle em duas palavras pode ser descrito como complexo e magnífico. Você, caro leitor, não perca tempo e adquira já sua cópia, porque, sem gota de dúvida, é um dos melhores trabalhos lançados nesse ano de 2012.