Ter uma carreira consolidada e bem edificada no mundo da música não é para qualquer um. A lista fica menor ainda quando a banda ou artista está beirando a terceira década de atividade, gozando da vitalidade e criatividade de iniciantes aliada à experiência dos anos na estrada.
A banda paulistana Korzus é um dos nomes do heavy metal nacional, e nela as atribuições acima recaem como uma luva. Para saber um pouco mais dos momentos marcantes nesses trintas anos de história e planos futuros que fomos bater um papo com o vocalista, Marcello Pompeu.
O álbum “Discipline of Hate”, desde seu lançamento no ano de 2010, foi e ainda é muito cortejado pela base de fãs da banda. Nesse ínterim de dois anos, o que foi possível colher com esse trabalho de estúdio?
Marcello Pompeu: Olha, foi muito boa a repercussão do álbum, foi além do que esperávamos. O público gostou, a mídia gostou e elevou a banda para um grau acima, então, nós só temos a agradecer por esse sucesso.
Em meados anos 1980 o Korzus já era, sem dúvida, um nome muito importante para a cena metálica nacional. Mas foi nos anos 1990 que a banda cravou a ferro quente seu nome na história da música pesada brasileira com os discos “Mass Illusion” (1991) e “KZS” (1995). Entretanto, “Discipline of Hate” parece elevar, ainda mais, o padrão da banda. E seria exagero taxá-lo como o melhor álbum da banda?
MP: O melhor eu não acho, porque discos são como filhos, como você pode gostar mais de um do que de outro? Eu, particularmente, gosto de todos, mas tenho um pé atrás com o disco “Sonho Maníaco” por causa da força que contém nele e que não me agrada nesse momento da minha vida. Em relação ao “Discipline”, talvez sua maior importância foi reafirmar o Korzus após a saída do Silvio, já que ele era um cara muito importante e considerado na cena. Sua saída poderia deixar a banda fraca, porém, o “Discipline” pôs um ponto final nisso e essa mudança de formação passou quase despercebida perante a força do disco.
O primeiro registro de estúdio do guitarrista Antônio Araujo (ex-ChaosSphere) foi justamente o “Discipline of Hate”. O que ele pôde agregar à identidade sonora do Korzus? Houve certa pressão em estúdio por estar com integrante novo e com a responsabilidade de superar o álbum anterior, “Ties of Blood”?
MP: No começo, ele teve um tempo para se adaptar ao nosso som, à nossa filosofia e entender como as coisas funcionam aqui. Passado isso, era como se ele estivesse a vida toda com a gente. Ele trabalhou de uma forma convincente, como um verdadeiro membro da família Korzus, compondo, escrevendo e, o principal de tudo, vivendo a vida da banda como nós. Pressão? Acho que só nos testes que ele fez para entrar na banda.
O guitarrista Silvio Golfetti foi substituído, no ano de 2007, por complicações em seu braço esquerdo, cedendo, oficialmente, seu posto no ano seguinte. Qual o envolvimento de Silvio com a banda hoje em dia?
MP: Ele não é mais membro da banda. Ele colabora no que é possível se precisarmos dele para compor algo e a agenda dele bater, pois nossa amizade, nossa história juntos, somam mais de 25 anos. Penso que o Silvio, em termos artísticos, é um grande colaborador, caso a banda necessite, e nossa ligação é eterna e, como todos sabem, a maioria dos fonogramas pertencentes à banda estão sendo relançados pela Voice Music (gravadora do Silvio), ou seja, ele é um grande parceiro que torce pela banda e nós torcemos por ele também.
Em 2010, vocês assinaram com a gravadora alemã, AFM Records. Como se deu esse encontro entre vocês? Foi um porta aberta para futuras excursões pelo velho continente?
MP: Sim, a AFM nos abriu o mercado europeu e nossa parceria começou um ano antes do lançamento do “Discipline”. Na real, nós nem tínhamos o disco composto quando veio um de seus gerentes artísticos pro Brasil para nos ver no palco, e depois disso começaram as negociações normais até o fechamento do contrato e o lançamento do disco. As coisas vão bem por lá, então, logo mais, colocaremos um novo CD para nossos fãs pelo mundo e, certamente, a AFM fará a distribuição fora das Américas.
A tradicional marca de bebida destilada alemã, Jägermeister, tem relação muito próxima do mundo da música, mas especificamente ao heavy metal, apoiando nomes como: Slayer, Behemoth e Epica. O Korzus é a primeira Jägerband brasileira. Como chegaram nessa parceria? O apoio da marca se limita a ações promocionais como seção de fotos ou há incentivos mais incisivos como apoio a turnês internacionais?
MP: Temos um apoio muito bom com eles, além das campanhas promocionais. Para nós, eles foram fundamentais no andamento de nossas carreiras e também é uma honra fazer parte desse seleto time e só temos a agradecê-los por todo apoio na campanha do “Discipline”, eles foram muito importantes nas nossas conquistas.
Comemorar 30 anos de carreira não é para qualquer um, não. E no ano que vem vocês chegam a essa marca. Vocês planejam algo especial para celebrar a data? Há planos de lançar um Box comemorativo, rememorando o passado da banda?
MP: Sim! Em outubro se dá o aniversário, e até lá será anunciada toda a festividade. Os relançamentos já começaram, haverá novo álbum, DVD e uma turnê de 30 anos já esta sendo projetada, e com certeza até virar o ano muito mais informações sobre nossos 30 anos será divulgada.
O álbum KZS foi relançado em versão digipack com inúmeros bônus tracks. Existe a possibilidades de os demais discos receberem o mesmo tratamento? Ou possíveis versões em vinil?
MP: Sim, você verá logo mais, e lembre-se que estamos em festa de 30 anos.
Vocês tocaram em parceria com Punk Metal Allstars na última edição do festival Rock in Rio. Vocês poderiam compartilhar com a gente o que representou aquele dia na carreira do Korzus?
MP: Foi uma grande conquista para o Korzus fazer parte da historia do Rock in Rio e é algo que será marcado para sempre no metal nacional, além de ter sido um show contagiante e com o publico nos apoiando insanamente. Para nós foi inesquecível, e esperamos que tenha sido para quem estava lá também.
Em contrapartida ao sucesso do festival Rock in Rio, a banda estava também no fatídico festival Metal Open Air que fora uma das coisas mais mal arranjadas na história do rock/metal brasileiro. E coube a vocês a tarefa de “encerrar” o festival. O que extrair de uma experiência tão, digamos, desagradável?
MP: Sinceramente, o nosso show foi maravilhoso e os bangers amaram, mas ficamos tristes pelas pessoas que sofreram por lá. Quanto à debandada das bandas gringas, eu quero que se fodam, porque sei que teve gente com não sei quantos mil dólares no bolso que implicaram com camarim e caixa de guitarra e, nem ao menos, pensaram nas pessoas que lá estavam. Teve banda que não queria respirar o mesmo ar que o Korzus ou outros brasileiros respirariam com medo sei lá do que. Bando de filhos da puta! É fato que rolou muita cagada da produção, mas o pior que ninguém enquadrou essas bandas que receberam muita, muita grana, para ir até lá, resultando num evento beirando ao circense com nosso amado metal na bandeira. Então, a lição que fica a todos nós, headbangers, é que não podemos mais tolerar produtores gananciosos e nem bandas gringas com o rei na barriga. Eu quero aproveitar para parabenizar as bandas que tocaram tendo recebido ou não, pois sei que fizeram em nome do metal para os headbangers que estavam lá.
O Korzus sempre foi uma banda acessível aos fãs, passando longe da vaidade que alguns músicos teimam manter. Gostaria que vocês comentassem essa proximidade e relação em pé de igualdade e respeito que vocês mantêm com os fãs.
MP: Cara, isso não tem fórmula, não se combina, isso tem que ser natural e fazer parte da sua vida, do seu jeito, do seu caráter. Nós somos assim e morreremos assim. É nossa filosofia, nada contra os outros, mas o Korzus é uma banda feita por headbangers que toca para headbangers, então, presumimos que a única diferença é que subimos no palco, porque no resto somos todos iguais, nem melhor nem pior.
O mundo da música é cíclico e, nesse giro, voltou com mais força ao mercado o formato ‘single’. Vocês lançaram, no ano passado, a canção “I Am Your God” nesse molde. Foi uma ação pontual para promover o nome Korzus, visto que foi na véspera da apresentação no Rock in Rio? Há chance de lançamento de novos ‘singles’ a fim de dar um gostinho do que está por vir?
MP: Sim, claro, o novo CD está chegando…
A banda parece viver o seu melhor momento da carreira. Estou certo?
MP: Acho que nossa experiencia, nosso formato e nossa filosofia a serviço do metal são os pontos que nos destacam dos outros. Tenho falado com outras bandas e vejo um grande futuro para o metal brasileiro, porque todos estão virando guerreiros de verdade sob uma única bandeira que é o metal brasileiro, e nosso futuro será brilhante, pode esperar que verás.
Fonte: Território da Música