Afirmar que a banda mineira, “Tuatha de Danann”, é um dos principais nomes do heavy metal brasileiro não é novidade alguma, tampouco se comete excesso em dizer que a banda reúne, pela qualidade de sua arte e simpatia de seus integrantes, uma legião de fãs por onde quer que ela leve sua música, partilhando com seus fãs as benesses, a alegria e a festa que é sua música.
E foi para saber um pouco mais sobre sua arte; o novo álbum, “Dawn of the New Sun”; o relançamento do disco homônimo à banda; participação no festival Wacken Open Air e planos futuros do Tuatha, que o site RockBizz, em entrevista exclusiva, foi bater um papo com o guitarrista e um dos fundadores da banda, Rodrigo Berne. Então, caro leitor, abra a garrafa de hidromel e ponha qualquer disco dos mineiros para tocar, por que essa é a combinação perfeita para degustar a entrevista a seguir.
O álbum “Dawn of the New Sun” marca a volta do Tuatha de Danann lançando material inédito, o que já era esperado pelos fãs há tempos. O disco foi lançado no ano passado, como tem sido a resposta dos fãs às novas canções?
Rodrigo Berne: Para quem já conhece a banda foi, realmente, um grande presente depois de tanto tempo, lançar o sucessor de Trova di Danú. As pessoas gostam do CD, cantam as músicas novas nos shows e compram nossos produtos, ou seja, tem andado tudo bem. Levamos onze anos para voltarmos ao estúdio, o que eu, particularmente, acho muito ruim, mas do começo das gravações até o fim da produção foi um mês e meio. Tem muita gente nova conhecendo a banda agora, com esse negócio de internet isso acontece diariamente.
“Dawn of the New Sun” traz a participação do vocalista e um dos precursores do folk metal, Martin Walkyier, na faixa “Rhymes Against Humanity”. Como se deu a participação de Martin e como você avalia o resultado alcançado na canção?
Rodrigo: O Martin já é um cara da família, a banda já tocou com ele duas vezes e ainda mantemos contato. Ele é uma personalidade ímpar. Ele marcou demais nossa carreira com os lançamentos do Skyclad, e não tinha como ser diferente essa união. Ele escreveu a melhor letra do CD, e acho, entre as músicas novas, “Rhymes Against Humanity” a melhor.
Além de Martin, o disco conta com a participação do vocalista e baixista Khadhu Capanema, na música “The Craic”. Como se deu e como você avalia a participação de Khadhu?
Rodrigo: O Khadhu é um grande músico e amigo da banda há alguns anos, pois sempre acompanhamos seus trabalhos com a banda, Cartoon. O Bruno já havia trabalhado com ele antes e, no momento da gravação, sugeriu a ideia de convidá-lo, o que foi muito bom. Ele canta muito e conhece as ‘loucuradas’ que gostamos de fazer nas músicas.
A novidade fica também por conta da participação e agora novo membro, Alex Navar (Uilleann Pipe). Como foi (é) o trabalho em estúdio e ao vivo com Alex? O que ele adicionou ao caldeirão de influências do Tuatha de Danann?
Rodrigo: O Alex é um cara que morou na Irlanda e saca muito do som Irish, e isso fez a banda aproveitá-lo para acrescentar ainda mais coisas do tipo em nosso som. Você pode perceber que o novo CD é mais pesado e mais Irish do que todos os outros.
Ele é o Celta da Lapa, pois mora na cidade do Rio de Janeiro. Ao vivo é onde as pessoas podem ver que estamos aí na área e renovados com novos instrumentos e sons, o que justifica a continuação do Tuatha. A única coisa ruim é que ele tem que viajar muito pra tocar com a gente.
Alex Navar também acumulou a função de designer gráfico em “Dawn of the New Sun”. Pelo visto, a importância dele não se limita ao plano musical, atuando também na parte estratégica e na imagem da banda.
Rodrigo: Sim, ele tem que trabalhar (risos). O mercado de trabalho está complicado. Na banda todo muito faz algo além de apenas tocar. Não temos mais empresário, ou seja, agora está tudo na nossa mão, então se ele é bom nisso, jogamos o trabalho para ele.
O “Dawn…” foi gravado no Braia Studios com a produção de Bruno Maia. Cogitaram trabalhar com algum produtor gringo de renome mundial? Ou o foco era não ter interferência externa de ninguém, atendo-se somente à percepção da banda?
Rodrigo: Depois de certo tempo, a banda começou a ver que era possível isso: fazer o próprio CD. O Bruno hoje tem um estúdio e resolvemos fazer tudo lá, e é bom que ele produza já que não tem pessoa melhor na banda para saber como devemos ser, musicalmente falando. Além disso, é muito melhor gravar o CD aqui em Varginha. Esse negócio de ter interferência externa custa muito caro, e a gente quer ficar livre de tudo que seja muito oneroso para banda. É melhor a banda ficar cada vez mais independente.
“We’re Back” é uma resposta direta e objetiva que os fãs, ansiosamente, esperavam há algum tempo. Sob a ótica do público é fácil deduzir os sentimentos que transitam entre alegria, felicidade e satisfação de vê-los em plena forma. Mas gostaria de saber o que essa canção representa para você? Quais os sentimentos que esse título e música lhe trazem?
Rodrigo: A gente não tem formula, isso é uma coisa impossível de ser explicada. Nós gostamos de tantos tipos de músicas que dá nisso aí. O “Dawn…” representa um novo tempo para a banda. Hoje já não somos tão inexperientes, cegos e, loucamente, apaixonados por se “dar bem”, saca?
Acredito que temos consciência da identidade musical que criamos e não queremos botar isso a perder por causa de grana, moda, etc. Temos um compromisso de fazer nossa arte do jeito que tiver de ser. Também ficamos felizes por superarmos antigos problemas com tudo que você possa imaginar, e estarmos aqui fazendo o melhor CD, até agora, de nossa carreira.
O Tuatha alcançou um resultado brilhante com o álbum “Trova di Danú”, espalhando o nome da banda além-fronteiras e edificando o grupo de forma que é sonho para grande parte das bandas brasileiras. Por que pausar as atividades da banda depois da turnê desse álbum, visto que o público já ansiava pelo novo álbum de inéditas?
Rodrigo: Isso aí foi um vacilo total, ponto final!
O tempo que separa “Trova di Danú” de “Dawn of the New Sun” são quase onze anos, embora a banda tenha lançado o disco, “Acoustic Live”, não se caracteriza por um trabalho de inéditas. Houve alguma pressão em captar a mesma essência e qualidade de “Trova di Danú” para o novo álbum? Ou foi algo como ajuntar os antigos amigos e fazer o que melhor sabem fazer, sem maiores preocupações ou reticências?
Rodrigo: Tinha pressão, sim, mas é assim que tem que ser de certa forma. As pessoas querem pegar o CD da banda e escutar boas músicas que lembrem a banda. Não adianta ir lá e jogar tempo fora. Mas quando começamos ajuntar às músicas as coisas clarearam, e deu para ver que iria rolar um ótimo disco. Foi muito bom também ver nossa performance em estúdio, novamente. Essa ‘piãozada’ aí está bem, não?
Com a pausa das atividades do Tuatha de Danann, você lançou a banda/CD solo, “The Tray Of Gift”, que conta com dois integrantes que passaram pelo Tuatha (Wilson Melkor (bateria) e Felipe Batiston (teclados)). As músicas que compõem esse álbum foram escritas com o foco no que viria ser o disco pós Trova di Danú? Ou a ideia era lançar um material independente da situação da banda?
Rodrigo: Sim, as músicas foram feitas para o Tuatha, mas aí a banda parou, então, eu gravei uma ‘demo tape’ e a Cogumelo Records lançou como um CD. Sei lá, foi um momento complicado, eu tinha que fazer alguma coisa.
Vislumbra a possibilidade de dar continuidade à carreira solo?
Rodrigo: Sim, muito. Tenho muitas coisas guardadas para outro álbum. Graças ao Tuatha eu sou reconhecido, mas chega um ponto em que você quer fazer algo diferente e em tempos diferentes. É uma liberdade musical que eu me dou ao luxo de querer fazer. A vida é curta. Não pretendo deixar gravações póstumas (risos).
A banda irá relançar o primeiro álbum, “Tuatha de Danann”. O que você pode adiantar sobre as novidades que contará nesse relançamento?
Rodrigo: Esse lançamento está previsto para o mês que vem: junho. Resgatamos as músicas desse disco agora com uma ótima produção e alguns arranjos novos, é uma grande viagem ao nosso passado, que merece ser vista pelas pessoas que estão conhecendo a banda agora e para aquelas que já a conhece, pois agora o som é outro. O disco tem um belo encarte com fotos da época, coisa bem underground. No momento já está disponível a música, “Queen of the Witches”, para audição no canal oficial da banda no youtube.
Já há planos ou ideias para um novo registro de estúdio?
Rodrigo: Ainda não. Estamos fazendo os shows do “Dawn…” e pretendemos tocar o álbum de 1999 na íntegra também.
Como foi tocar no maior festival de heavy metal do mundo, o Wacken Open Air, sendo convidado, pessoalmente, pelo idealizador do festival?
Rodrigo: Foi demais! Esse assunto é sempre pauta de entrevistas, e sempre afirmo que em 2005, no Wacken, o Tuatha abriu a porta para muitas bandas naquelas áreas. Eles olharam para o Brasil com novos olhos, pois eles só conheciam três bandas do Brasil: Sepultura, Angra e Krisiun.
O show teve trinta minutos, foi uma pancada só. Os brasileiros que estavam por lá ficaram bem diferentes com a gente, por que o Tuatha é uma banda de gente simples, do interior. A gente não tem aquela pose de metal, nós somos de boa. Resumindo: foi para fuder mesmo e espero voltar uma hora.
Em sua opinião, o que há de se fazer para encorpar e trazer mais robustez à cena metálica brasileira? Como sobreviver de música, especialmente rock/metal, no Brasil?
Rodrigo: Escrever músicas boas.
E quais os diferenciais você julga importante ter em mãos para se estabilizar no mercado musical que se coloca, às vezes, de forma contraditória, onde artistas de qualidade duvidosa ganha grande apoio e quórum?
Rodrigo: A sociedade brasileira é muito burra, não dá para esperar nada disso. Faça seu som e pronto.
O que o fez trilhar o caminho artístico? E quais as influências que o ajudaram moldar o músico/guitarrista Rodrigo Berne?
Rodrigo: Boa pergunta. Eu gosto de estar em uma banda; escutar o som dos instrumentos juntos; encontrar com os caras da banda; viajar e colocar as ideias para fora da cabeça pela guitarra. É um trabalho que você vive em um mundo meio lúdico. Você tem que encantar as pessoas para elas escutarem sua música, o que é legal. Não tem como você fazer um cálculo matemático nisso, simplesmente a música te domina; ela se serve de nós, não tem controle, não existe certeza de nada, é um eterno vamos ver. Mas é ótimo ver as pessoas felizes pelo o que você faz.
Desde pequeno, com oito anos de idade, eu já curtia as bandas de pop e de rock das rádios. Eu dormia com o rádio do lado da cama, e eu nem sabia o que era estilo musical, mas algo me fisgou ali, naquele momento. Depois começaram a tocar no rádio o Metallica, Guns n’ Roses e algumas bandas nacionais, mas foi o Ramones e o Iron Maiden que marcaram demais essa época entre os dez e quinze anos.
Depois veio o Death Metal, Doom Metal e, lógico, a música Celta e Folk. Isso, realmente, embaralhou tudo, por que eu acreditava que a banda tinha poder e que gnomos poderiam existir. Essas coisas da natureza levaram minha cabeça para uma visão mais ampla da música e da vida. Eu, praticamente, aprendi tocar guitarra sozinho, tudo era tirado de ouvido e não existia nada que pudesse me ajudar, como guitarrista, naquela época, o que foi um processo meio complicado, pois moro em Varginha, e até hoje não tem nada aqui como: lojas, shows (hoje tem o Roça n’ Roll). Eu comecei a tocar nas praças e coretos e os ensaios eram os mais precários possíveis, mas era tudo perfeito para um moleque de catorze anos.
Arriscaria indicar novos artistas que valem a atenção do público do Tuatha de Danann?
Rodrigo: Aneurose, Lothloryen, Galwen, Motoserra Truck Club, Cartoon e Cálix.
Agradeço pela entrevista e deixo o espaço aberto as suas considerações finais.
Rodrigo: Muito obrigado pela ótima entrevista. As pessoas precisam de sites sérios e comprometidos com nosso meio musical. É ótimo poder estar aqui e fazer parte de tudo isso, como: fazer shows, lançar CD’s, ver as pessoas na internet comentando. Por isso todos da banda têm muito respeito por vocês.
KEEP ON ROCKING ON THE FREE WORLD! www.tuathadedanann.art.br