Fazer comparações ou pautar um assunto usando de referência outro é quase sempre uma cilada. Pode haver distorções do real sentido daquela comparação e a probabilidade de falar besteira é bem grande. Mas como o bom é cutucar a onça com vara curta, cá estou indo ao encontro das probabilidades e possíveis distorções.
Assistir um show dos alemães do Blind Guardian é como assistir um jogo amistoso de uma seleção, apenas uma absurda falta de bom senso pode vir colocar todo trabalho por terra. Com a banda alemã a engrenagem é a mesma. É subir no palco, deixar brilhar o talento individual e não cometer a insensatez de estruturar um repertório cansativo… e voilà: um show que agradará todos os fãs.
E foi como esse bom senso que a banda subiu ao palco da Fundição Progresso na noite do último Domingo. Divulgando o já não tão novo, “At the Edge of Time”, a banda mostrou que – para o bem ou mal – ainda é uma referência no, hoje, combalido ‘power metal’ germânico.
Com um atraso de mais de meia hora do horário programado, 21h00, “Sacred Worlds” é a escolhida para começar a ‘ode’ à cavaleiros, guerreiros e às obras de J. R. Tolkien. A canção é o DNA da banda com orquestrações aliada a passagens pesadas e boas harmonias vocais.
Sempre muito gentil com a platéia o vocalista, Hansi Kürsch, dá boas vindas e convida todos a uma viagem ao tempo, no ano de 1990, com a canção “Welcome to Dying”. “Nightfall” dá continuidade ao show com sua melodia certeira e refrão simples, porém, para lá de convidativo, o que não pode ser dito da única representante do álbum “A Twist in the Myth”, “Fly”. A canção não é execrável, mas é fato que a banda tem em sua discografia músicas de maior expressão e apelo. Não custava relembrar os bons momentos como em “Bright Eyes”.
Como é dito na gíria policial: a casa caiu mesmo quando Hansi, sempre comunicativo, apresenta a próxima canção, baseada no livro “O Silmarillion” e que conta a batalha entre rei Fingolfin e o senhor do escuridão Morgoth, “Time Stands Still (At the Iron Hill)”. Por ser uma das canções mais importantes da banda, a recepção foi pra lá de calorosa.
“Traveler in Time” ganha suspiros entusiasmados do público, mas é prejudicada por um áudio embolado. A qualidade de som em toda apresentação oscilava em ora alto e nítido e ora uma massa sonora de difícil compreensão.
“Agora é hora de nos acalmarmos um pouco”, diz o vocalista. Ledo engano, Hansi. “Mordred’s Song” nunca foi um momento calmo nas apresentações da banda, muito pelo contrário, a canção sempre foi acompanhada de muita euforia por parte do público. O novo álbum volta representado pela empolgante, “Tanelorn (Into the Void).
Vale ressaltar que o novo disco, “At the Edge of Time”, é bem similar aos trabalhos da banda nos anos 1990. E talvez o melhor desde “Nightfall in Middle-Earth” (1998). Lógico que são épocas diferentes; a banda está, hoje, com outra formação e a experiência conta a favor de um trabalho maduro e bem dosado.
Mas é fato que os alemães quiseram rememorar as glórias vividas no passado, trazendo ao novo trabalho canções de maior qualidade e equiparadas ao que a banda já realizou de bem feito. Sem pestanejar, conseguiram com sobras.
Se alguém nunca escutou o som da banda e tiver em dúvida por onde começar, a trinca “Lord of the Rings”, “Valhalla” e “Imaginations from the Other Side” é um ótimo começo. Nessas canções estão contidas todas facetas – ou grande parte delas – que a banda faz questão de impregnar sua obra.
A primeira etapa do show foi concluída da forma mais apropriada e em grande estilo com público catando cada verso das músicas citadas.
Na volta ao palco, “Wheel of Time” não consegue agregar muito ao saldo positivo da noite, deixando a responsabilidade de cativar o público nas mãos, ou nos versos, da insubstituível, “The Bard’s Song (In the Forest)”.
Nem o fã mais viking da banda conseguiu ficar imune à suavidade e delicadeza da canção, levando alguns desses “inabaláveis guerreiros” às lágrimas.E se até esse momento do show alguém tivesse colocando em cheque o poderio sonoro da banda, tal dúvida certamente foi desintegrada pela avalanche chamada “Mirror Mirror”. Sem dúvida a canção está na seleta categoria de ser referência. E acredite amigo, são para pouquíssimas canções e bandas essa honraria.
E esse seria o final da apresentação dos alemães nas terras cariocas. Mas com os incessantes pedidos do público, só ficou no seria mesmo. “Majesty”, sim, é a cereja que faltava no bolo, na festa e na celebração dos bardos.
Como foi comentado no começo da matéria, o Blind Guardian é o tipo de banda que entra em campo, ou palco, com o jogo ganho. Só uma completa irresponsabilidade e falta de bom senso de seus integrantes para colocar o resultado da partida em risco. Vida longa aos ‘trovadores’ alemães.
Fonte: http://www.territoriodamusica.com/rockonline/shows/?c=1104
Por Marcelo Prudente