“Não tem nada mais assustador do que ouvir uma mulher gritando”. Amalie Bruun poderia estar falando sobre um filme de terror. Mas, a dinamarquesa está se referindo à sua carreira no black metal, em que responde por Myrkur.
Radicada em Nova York e tendo uma participação em um duo pop antes de fazer fama no gênero mais polêmico do metal, ela tem causado reações extremadas na cena. Se por um lado angaria fãs a cada lançamento, por outro já sentiu na pele o machismo por fazer música extrema e já sofreu ameaças de morte.
O black metal sempre foi um gênero obscuro e, nos seus primórdios, a música era acompanhada por atos violentos. Na Noruega, integrantes de banda queimaram igrejas e houve casos de suicídio, agressão e assassinato. Além da pecha de violento, o gênero acabou construindo uma imagem de misógino, homofóbico e racista, mesmo que isso não se aplique a boa parte de quem participa ou aprecia a cena.
Com esse pano de fundo, Amalie tem dificuldades para ser aceita. “Eu nunca fui convidada para esta cena, não foi uma porta fácil de chutar. Eu fui me deixando entrar”, explicou. O passado com o duo pop Ex Cops e o fato de ser uma multi-instrumentista e compositora gerou desconfianças e até acusações de que há mais gente por trás de seu sucesso ou de que ela está destruindo a imagem do black metal.
“Não tem sido fácil. Tive reações extremadas, ameaças de morte, vídeos de ódio e reclamações de que estou denegrindo o estilo. Sou tão poderosa assim? Posso arruinar um gênero inteiro? Não acredito nisso”, afirmou ela, ao New York Post.
“Nas ameaças, citaram pessoas que conheço, gente que está à minha volta, então isso gera preocupação de gerar algo físico. Fariam isso se eu fosse um homem? Provavelmente não. Ainda existe uma caça às bruxas quando se é uma mulher”, adicionou a musicista.
Bela e fera
Myrkur quer dizer escuridão em islandês. Mas o trabalho de Amalie como multi-instrumentista e compositora tem mais cores do que isso. Em seus dois álbuns, ela vai dos gritos e guitarras rasgadas a passagens mais calmas, com voz angelical. Ela grava a maioria dos instrumentos, mas conta com convidados em alguns deles e na bateria e, para se apresentar ao vivo, conta com uma banda fixa.
“Há algumas interpretações erradas sobre o black metal. Que só fala de Satã ou que é meio idiota. Ele não é visto no nível artístico de outros gêneros, mas, como alguém que toca, posso dizer o contrário. Até a técnica de guitarra é similar a um arco de violino. É bem cru, mas de alguma forma bonito, o que para mim é o que representa o verdadeiro belo. Beleza é como a natureza, é brutal”, filosofa ela. “O black metal ainda é visto como um gênero não artístico, mas estou aqui para mudar isso”.
Amalie começou sua carreira como Myrkur em 2014 e no mesmo ano assinou com a gravadora Relapse Records. Seu primeiro EP, autointitulado, saiu no mesmo ano e já repercutiu. Em 2015, lançou o primeiro álbum, M. O segundo veio dois anos depois: Maremidt.
“Myrkur é uma jornada pessoal para dentro de mim. Eu queria capturar isso psicologicamente”, explica ela, que usa a mitologia nórdica na maioria de suas letras.
Amalie cresceu no meio da música, já que seu pai toca, e ganhou seu primeiro violino aos cinco anos. Depois, aprendeu a tocar piano e a cantar. Hoje, toca até instrumentos menos habituais, como o a nyckelharpa nessa canção folclórica dos escandinavos:
Veja o clipe de Onde Born:
Fonte: UOL