Embarcando na onda do Rock In Rio, Porto Alegre entrou na rota de shows inéditos na cidade. Se na semana anterior foi Bon Jovi, no dia 26 foi a vez dos gigantes: The Who e Def Leppard. O The Who foi um dos precursores do rock n’ roll e tem uma série de clássicos e álbuns históricos. Já o Def Leppard vem de uma geração à frente, sendo um dos grandes nomes do hard rock dos anos 80.
Se as bandas surgiram em épocas diferentes, no entanto, dois fatos as conectam: Primeiro, a sua origem, onde os dois grupos vieram da Inglaterra e conquistaram o mundo. Segundo, é um fator triste, as tragédias com seus bateristas. Keith Moon, do The Who, considerado por muitos como um dos maiores bateristas de todos os tempos, teve uma trágica morte causada por overdose de medicamentos quando tentava diminuir o consumo de álcool. Hoje, o grupo conta com Zak Starkey, que é filho do lendário Ringo Starr, do Beattles, em seu posto.
Já Rick Allen, o baterista do Def Leppard, sofreu um acidente de carro na véspera de ano novo quando a banda estava fazendo grande sucesso após o álbum Pyromania. No acidente, ele acabou tendo um braço amputado, mas a tragédia trouxe inovação e uma incrível adaptação do músico que desenvolveu um novo método de continuar tocando, e foi a partir daí que veio todo o trabalho que culminou com o maior clássico do grupo, o álbum Hysteria.
Após tocarem em noites diferentes no festival do Rock in Rio, as bandas se uniram para o show no Anfiteatro Beira Rio, área especial dentro do estádio do Internacional que mantém o status de show em estádio, mas com palco mais perto das arquibancadas e pista reduzida, deixando sensação agradável a todos os presentes. A Brio, empresa que administra o estádio, trabalha o Beira-Rio como um Complexo Multiuso, a fim de aproveitar todas as oportunidades culturais e econômicas do local, o que vem se consolidando como uma das opções preferidas para as produtoras de shows.
O Beira-Rio pode receber shows para até 50 mil pessoas no formato Estádio, até 24 mil pessoas no formato Anfiteatro Ampliado e até nove mil pessoas no formato Anfiteatro. Dispõe ainda de área com tribunas e lounge para acompanhar os shows mais confortavelmente e fazer uma social com convidados. O espaço é extremamente aconchegante, organizado e o serviço prestado por todos é de alto nível, o que torna a experiência ainda mais incrível.
Às 19h25, após testarem os PA’s com Shoot to Thrill, do AC/DC, as luzes se apagam e o Def Leppard entra em cena com Let’s Go, música do mais recente trabalho de 2015, um dos raros materiais da banda nos aplicativos de stream de música como Spotify e Deezer. A seguida foi lembrando o clássico álbum Hysteria, Animal agitou o público ainda pequeno na pista, mas em bom número nas arquibancadas.
Joe Elliot saúda a plateia: “Faça barulho e se divirta, Porto Alegre”. Let it Go foi a próxima, apesar do nome parecido, 35 anos separam essa da primeira da noite. Depois de três petardos, foi a vez de acalmar as coisas, uma das grandes baladas do hard rock finalmente foi apresentada ao vivo, Love Bites, com a famosa e sempre citada versão brasileira da banda Yahoo, execução plena da banda que atingiu diversas gerações.
“Vocês podem fazer barulho para Mr. Phil”, exclama Joe. Phil responde com sua guitarra e o solo de Armageddon It trouxe a animação de volta com os riffs marcantes, que é característica do grupo. A banda toca mais uma do trabalho mais recente, Man Enough, que é mais cadenciada e com uma linha de baixo sensacional, mostrando como o grupo consegue soar atual sem perder sua essência. A sequência é com outro clássico: Rocket, que anima bastante, e tem grande destaque para o solo de Vivian Campbell.
“Aqui vai uma para vocês”, avisa Elliott, mais uma melosa e cadenciada, direto de 1981 do álbum High n’ Dry. Bringin’ On The Heartbreak, que ganhou fama também pela versão de Mariah Carey no início dos anos 2000. Do mesmo álbum e sem pausas, vem Switch 625, faixa instrumental que mostra o virtuosismo e a qualidade da banda já em seus primórdios.
O potente som do estádio se destacou, os riffs foram aumentando em potência e velocidade, culminando com o lindo duelo de solo dos guitarristas Phil Collen e Vivian Campbell. Emocionante também foi acompanhar o solo de bateria de Rick Allen, onde suas adaptações o mantém tocando com habilidade e dando um show à parte para delírio de todos os fãs que retribuem mandando energias positivas e carinho ao músico há 30 anos.
Se aproximando da reta final, o grupo voltou às atenções, novamente, ao disco Hysteria, principal trabalho da banda. A faixa título, bem popular, trouxe imagens antigas do grupo no telão, assinando contratos, atendendo fãs, jogando futebol e também fazendo aquilo que sabe melhor: Tocando. O grupo é, totalmente, ovacionado pelos presentes. Joe se curva à plateia em um dos momentos mais bonitos do show.
Depois de Let’s Get it Rocked veio o clássico definitivo da banda. Pour Some Sugar On Me marcou época e foi o grande impulso para o sucesso de Hysteria e banda. Ela tem uma curiosa versão cantada por Tom Cruise na adaptação aos cinemas do musical Rock of Ages. Por falar em Rock of Ages, Joe pede a todos que façam barulho para Allen, que vai introduzir essa. A intro Gunter glieben glauten globen, popularmente conhecida pelo sampler em Pretty Fly (for a White Guy), do The Offspring, anunciava Rock of Ages, outro dos clássicos do grupo e super popular.
O Def Leppard fechou a noite com outro grande clássico, Photograph, outra bem aceita, que completa uma estreia de luxo do grupo em Porto Alegre. Foi uma homenagem a eles mesmo em seus maiores momentos e mostrando, com as composições atuais, que o grupo segue fazendo um ótimo hard rock. Em pouco mais de 80 minutos, o grupo deixou um gosto de quero mais entre os presentes que, diferente do The Kills que abriu para o Bon Jovi, agitou a plateia que aproveitou muito o show de abertura e ovacionou a banda.
Aproximadamente uma hora separava o Rio Grande do Sul de receber um dos mais icônicos grupos de rock de todos os tempos. Pontualmente, às 21h30, as luzes se apagaram e o grupo surge com I Can’t Explain e The Seeker. Em Who Are you, o efeito dos quase 15 mil presentes fazendo o backing vocal foi impressionante.
Roger Daltrey fala com os presentes: “Porto Alegra”, diz ele, sem conseguir pronunciar o nome da cidade: “Esse é o melhor que posso fazer”, completa o vocalista que pede desculpas por demorar tanto para tocar na cidade. Antes de I Can See for Miles, Pete avisa: “Essa música é de 1969, nenhum de vocês era vivo, seus pais ainda não eram casados”. E sem enrolar vem My Generation, um dos hinos do grupo.
“This song is from album who’s next, it’s bargain”, anuncia Roger. Um dos álbuns mais famosos do grupo não poderia ter melhor reação: Público acompanhando junto cada frase. “Essa não é uma canção do Limp Bizkit”, exclama Pete. Behind Blue Eyes ficou famosa no início dos anos 2000 em uma versão do grupo americano, que foi trilha do filme Gothika. O vídeo contou com a participação de Halle Berry e fez grande sucesso, o clássico do Who foi cantado em uníssono pelos presentes.
A banda não perde tempo e vai emendando uma atrás da outra, passando por várias fases do grupo, e um dos momentos mais marcantes foi a sequência de musicas do álbum Tommy, a grande ópera rock do grupo: Amazing Journey, Sparks, Pinball Wizard e See Me, Feel Me foram apresentadas. Se Tommy marcou época, Who’s Next, álbum seguinte, trouxe outro grande hino da banda, Baba o’ Rilley foi como um devaneio para todos.
Pete apresenta a banda e a platéia responde com “Who, Who, Who”, o vocalista no fim pede um salva de palmas a todos os fãs. O grupo tem tempo para mais duas: 5:15 e Substitute que encerra uma noite de história e o giro do The Who, no Brasil. Com 50 anos de atraso, finalmente os brasileiros tiveram a oportunidade de ver a lendária banda desfilar o seu show de nostalgia e mais puro rock n’ roll.