A velha máxima: Antes tarde do que nunca! Talvez esse seja o axioma das duas apresentações – São Paulo (22) e Rio de Janeiro (24) – da banda norueguesa, Borknagar, em terras tupiniquins, já que os fãs brasileiros almejam por um show dos vinkings há anos e eis que o momento chegou amparado pela divulgação do ótimo álbum de estúdio, Winter Thrice, o que deixou tudo com um sabor tão especial quanto o Aquavit e Mjød.
O show na capital fluminense, realizado no Teatro Odisseia, começou sob os acordes do novo som, a bela e pesada The Rhymes of the Mountain, provando de imediato que a noite seria de plena celebração ao citado Winter Thrice e, lógico, à carreira de uma das maiores forças, quiçá maior, do black metal. O público carioca, ciente de sua responsabilidade em mostrar seu grande poderio sonoro e da seminal oportunidade de testemunhar a lenda norueguesa pela primeira vez, compareceu em bom número e mostrou, mais uma vez, que o som extremo é mais do que bem quisto e festejado pelas bandas de cá.
A pujança e potência da canção Epochalypse se equipara a uma bomba de hidrogênio sendo potencializada pelo entusiasmo e vibração do público, e tal dinâmica é seguida à risca na cadenciada Oceans Rise, que rememora os idos dos anos 1990, onde o grupo já se posicionava como a vanguarda da maravilhosa alquimia do black metal e progressivo, o que se configurou como o oásis em meio a tanto pastiche empesteado no cenário metálico em tal década.
Diferente de sua música que se envereda pelos caminhos tortuosos da complexidade e peso, os músicos – Lars Are Nedland (vocal e teclado); Simen “Vortex” Hestnæs (vocal e baixo); Øystein G. Brun (guitarra); Baard Kolstad (bateria); Jens Fredrik Ryland (guitarra) e Athera (vocal) – se revelam a antítese, visto que a forma agradável, simples e delicada de tratar os fãs são de dar uma grande lição a pseudo rockstars que, de modo parco, concebem sua arte e tratam seus seguidores pautados no errôneo caminho do desdém.
Cold Runs the River fora a simbiose perfeita entre o extremo e melodia, assim como The Eye of the Oden que seguiu tais passos da proporcionalidade, equilibrando o maravilhoso caos sonoro desenfreado à mansidão dos vocais limpos e passagens de pura suavidade. Apontar destaques na apresentação do Borknagar é uma tarefa inglória, visto que o show é linear quanto a sua ótima qualidade, no entanto, seria de total irresponsabilidade não garantir holofote extra ao belo trabalho vocal de Vortex; à energética e precisa performance do jovem baterista, Baard, e, lógico, a elegância e segurança dos acordes e timbres do mestre das seis cordas, Øystein Brun.
Com dez discos de estúdio, o grupo possui material suficiente para agradar toda a gama de público, ou seja, a satisfação dos fãs antigos foi assegurada com temas irretocáveis do teor de The Dawn of the End, Dauden e Colossus, já a felicidade dos novos fãs veio, por exemplo, sob o primeiro single homônimo ao novo álbum, o já citado Winter Thrice, o que proporcionou a nova leva de entusiastas à arte dos vinkings abrirem largo sorriso no rosto.
Em quase noventa minutos de apresentação, os noruegueses cumpriram o prometido: Muita diversão ao som do mais puro e maltado black metal! A espera fora grande e exaustiva, mas a contemplação de ver o Borknagar em plena forma, diga-se, aportar na capital fluminense e presentear sua fiel legião de fãs com suas incríveis músicas é algo que deve ser reverenciado e celebrado aos que se dispuseram a prestigiá-los. Já a contagem regressiva, bem como a angustiante espera pelo certo retorno aos palcos cariocas, começou ontem quando do último acorde dos noruegueses.