A segunda edição do festival Solid Rock acertou mais uma vez na escolha do line up, já que apostou na diversidade de estilos dentro do universo rock n’ roll, tendo a vanguarda do heavy metal comandada pelo Judas Priest, a sujeira e introspecção do grunge nas mãos do Alice in Chains e a pegada festiva e despojada sob a responsabilidade do hard rock do Black Star Riders, ou seja, tinha som para fazer alegria de todos os fãs que prestigiaram o evento que aconteceu nas cidades de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – o show de BH acontecerá no dia 14, sem a presença do Alice in Chains.
Black Star Riders
O clima quente da capital fluminense inspirou e envolveu a performance das três bandas ontem, 11, no Km de Vantagens Hall. A abertura da noite ficou na incumbência do Black Star Riders que debutou na cidade com a tarefa de mostrar ao público o poderio sonoro de seu mais recente álbum, Heavy Fire (2017), e sucessos de seus outros dois discos: The Killer Instinct (2015) e All Hell Breaks Loose (2013).
Em quarenta e cinco minutos de show, o BSR fisgou atenção da plateia e abriu uma janela de oportunidade para futuros shows na cidade, já que canções como as empolgantes When the Night Comes In, All Hell Breaks Loose, The Killer Instinct e Bound for Glory deram conta do recado e conquistaram efusivos aplausos dos fãs.
Além de suas músicas autorais, o grupo presenteou os cariocas com os covers de Jailbreak e The Boys Are Back in Town, do Thin Lizzy. Cabe comentar que o Black Star Riders é composto pelo ex-guitarra do Thin Lizzy, Scott Gorham – completa a banda Ricky Warwick (vocal e guitarra); Luke Morley (guitarra); Robert Crane (baixo) e Chad Szeliga (bateria) – ou seja, a execução das citadas canções não fora algo sem sentido ou fora de esquadro. Em suma, o Black Star Riders estreou com pé direito nas bandas de cá.
Alice in Chains
A atmosfera soturna e pesada da cidade de Seattle, EUA, berço do grunge, dominou o ambiente com os primeiros acordes de Check My Brain, a única representante do álbum Black Gives Way to Blue, de 2009. Com a qualidade de som impecável, o Alice in Chains não encontrou nenhum obstáculo para apresentar alguns de seus maiores sucessos, dessa forma, o material mais contemporâneo como Never Fade, Rooster, Hollow e Stone tiveram perfeita sinergia aos sons clássicos como Them Bones, No Excuses, Would?, Dam That River e Man in the Box.
Longe do estereótipo largado, dorme sujo e displicente do grunge, o Alice in Chains dominou o palco com técnica apurada, excelentes timbres e boa presença de palco, o que favoreceu à ótima resposta do público carioca em todo repertório dos norte-americanos. O destaque vai para o guitarrista e vocalista Jerry Cantrell e o vocalista William DuVall, que desempenham uma dobradinha vocal poderosa e eficiente.
Judas Priest
O calor rivalizava com a ansiedade dos fãs para testemunhar, mais uma vez, o massacre metálico que só o Judas Priest consegue proporcionar. Bruto, cru, direto, potente e primoroso, o show da banda inglesa é como uma locomotiva Big Boy a todo vapor e em rumo a seu destino que fora glorificar uma carreira que já beira a cinco décadas de atividade.
Com um novo álbum debaixo do braço, o ótimo Firepower, o Judas iniciou seu show dando uma amostra do citado Firepower, com sua faixa homônima. Bela ornamentação de palco e didático ao apresentar no telão a capa do disco respectivo à canção executada, os fãs não tiveram nenhuma dificuldade em sorver cada detalhe da apresentação dos britânicos.
Uma bem-aventurada repassada na discografia foi a deixa para que o público fosse à loucura com sons da excelência e potência de Running Wild, Sinner, The Ripper, Grinder, Turbo Lover e The Green Manalishi (With the Two Prong Crown), cover da banda norte-americana Fleetwood Mac.
A performance do eterno Metal God, Rob Halford, desafia a ciência com suas teorias sem pé e cabeça, onde jura de pé junto que em idade mais avançada o correto é focar em atividades de menor vulto. Halford conserva uma potência inacreditável em seu gogó e se porta como um verdadeiro deus do metal no palco, e até mesmo suas vestimentas de caráter sadomasoquista é uma atração a mais para os olhos.
E não é só o Metal God que merece saraivada de elogios, já que a precisão cirúrgica do baterista Scott Travis e a atuação simples e correta do baixista Ian Hill dão base para que a dupla de guitarristas: Richie Faulkner e Andy Sneap – Andy substituiu Glenn Tipton que está impossibilitado de se apresentar devido ao Mal de Parkinson – brilhem em riffs poderosos e nos solos virtuosos e mirabolantes que são o DNA do Judas Priest.
Temas da nova safra como as vigorosas Lightning Strike, No Surrender e Rising From Ruins coabitam em perfeita harmonia e consonância com clássicos imortais da categoria de You’ve Got Another Thing Comin’; Hell Bent for Leather, com direito a entrada triunfal de Rob no palco em uma motocicleta; Painkiller; Electric Eye; Breaking the Law e o ‘grand finale’ com Living After Midnight.
Em quase duas horas de show, o Judas Priest jogou um balde d’água fria em línguas maledicentes que proferem falsos testemunhos de que o rock n’ roll & heavy metal está enterrado a sete palmos de terra. O grupo comungou com os fãs cariocas as glórias do passado e contemplou com seu fiel público seu presente momento que é de pleno gozo e de uma saúde musical vigorosa capaz de deixar seus pares corando de vergonha ao pedir aposentadoria por insalubridade.
Pela segunda vez, o festival Solid Rock apostou nas atrações certas e garantiu casa cheia e, consequentemente, a felicidade do público que compareceu ao evento. O relógio já está em contagem para que a terceira edição venha recheada com uma programação de primeira qualidade como a deste ano (2018) e do ano passado (2017).